"Falar em reações alérgicas deflagradas pela ingestão de um belo prato de camarão, um copo de leite ou um punhado de amendoim lembra um filme de suspense"
É que o enredo tem mistérios ainda não completamente desvendados pelos especialistas: por que determinados alimentos são encarados como inimigos pelo organismo de algumas pessoas? E por que o fenômeno vem se tornando tão frequente?
Nos Estados Unidos, chama a atenção o alarmante crescimento de alergias provocadas pelo amendoim, item obrigatório na mesa dos americanos. Lá são nada menos do que 1,8 milhão de pessoas que passam mal quando comem qualquer coisa à base dessa oleaginosa. No Brasil os casos de alergia alimentar também aumentam. Só que, aqui, não há uma estimativa exata dos afetados, compara a alergista Renata Cocco, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.
Os genes têm culpa no cartório. Se os pais apresentam algum tipo de reação, mesmo que não tenha a ver com comida como asma ou dermatite, o filho tem 75% de risco de desenvolver uma manifestação do gênero, incluída a alergia a algum tipo de alimento, conta. Ela ocorre quando o sistema imunológico passa a enxergar a proteína de determinado ingrediente como uma ameaça.
A incidência do distúrbio cresce principalmente em regiões industrializadas. Por isso, uma das hipóteses é a chamada teoria da higiene, revela à SAÚDE! Scott Sicherer, pesquisador do Hospital Monte Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos. De acordo com ela, os hábitos de limpeza, as vacinas e os antibióticos tornam as pessoas menos expostas a infecções. Isso levaria o organismo a, digamos, perder a noção de relevância e atacar algo que não representa real perigo, como a proteína de um alimento.
Muitos especulam que o crescente consumo de produtos industrializados contribuiria para a maior incidência da alergia alimentar mas nada ainda foi comprovado. Evandro Prado, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, tem uma explicação na ponta da língua para esse fenômeno: Estamos fazendo mais diagnósticos de alergias, o que aumenta a prevalência do problema, avalia.
Em tese, industrializado ou não, qualquer alimento é capaz de desencadear uma bela reação alérgica. Mas existem aqueles, como o leite e os frutos do mar, que se transformaram em protagonistas de boa parte dos episódios. Acredita-se que suas proteínas sobrevivam à digestão e, assim, sejam mais facilmente reconhecidas (e atacadas) pelo sistema imune, diz Sicherer.
O curioso é que a reação alérgica pode desaparecer à medida que a criança cresce ou, então, no outro extremo, se manifestar apenas na fase adulta. Ainda não se sabe o motivo, mas na infância algumas células passam a produzir substâncias que bloqueiam os anticorpos, pondo um ponto final na alergia em muitos casos. Estamos falando de crianças. Com adultos, uma vez iniciada, a história não tem fim.
"Uma pessoa pode comer camarão a vida inteira e só aos 30 anos reagir a ele", ressalta Ariana Yang, responsável pelo Ambulatório de Alergia Alimentar do Hospital das Clínicas de São Paulo. Bem, a partir dessa primeira crise... Ela vai apresentar os sintomas toda vez que ingerir o crustáceo, Ariana lamenta informar. E boa pergunta: por que a aversão ao bicho só dá as caras na fase adulta? Porque qualquer reação vai depender da dosagem dos anticorpos específicos. E pode levar uma semana ou mais de dez anos até que o organismo forme uma considerável quantidade deles, diz Evandro Prado. Fonte: Revista Saúde
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