"Está mais forte a hipótese de que o mosquito Aedes aegypti não seria o
único vetor do zika vírus, que já consegue se propagar em cerca de 40
países"
Resultados preliminares de um estudo desenvolvido pela Fiocruz
Pernambuco sugerem que o Culex quinquefasciatus (conhecido popularmente
como muriçoca), que coloca seus ovos em criadouros poluídos, é
provavelmente um potencial vetor de zika. O estudo, liderado pela
bióloga Constância Ayres Lopes, conseguiu detectar a presença do zika em
alta carga viral na glândula salivar do Culex após realização de três
infecções, em laboratório, em cerca de 200 mosquitos.
“Se o vírus alcança a glândula salivar,
significa que o Culex pode disseminá-lo. Para comprovar isso, são
necessários outros experimentos, com amostras de mosquito de campo”,
explicou Constância, durante workshop sobre zika que terminou ontem na
Fiocruz Pernambuco. Por enquanto, ela reforça que ainda é cedo para
assegurar que o Culex transmite o vírus.
Para garantir isso, é preciso encontrar
essa espécie de mosquito infectado com o zika na natureza. A próxima
etapa do estudo, segundo Constância, é analisar esse material de campo
que está sendo coletado nas casas onde estão sendo registrados casos de
zika. A equipe técnica da Secretaria Estadual de Saúde tem feito essa
coleta e acompanhado o estudo. “Vamos trazer o material para o
laboratório e fazer o teste molecular na tentativa de detectar o vírus
nessas espécies. Com esse resultado a partir da análise de uma grande
quantidade de amostras, poderemos idealizar se o Aedes é vetor
exclusivo, se existem outros vetores e qual importância de cada um no
papel de transmissão.”
Nessa fase da pesquisa, a bióloga tem
como meta analisar cerca de 10 mil pools de mosquitos. “Assim, pode-se
ter ideia da dispersão, compará-la com diferentes bairros e municípios
para ver se há coincidência com os casos de zika e microcefalia. Vai
levar um tempo para se ter resultado”, diz Constância, que detectou uma
facilidade da infecção e da disseminação do vírus para a glândula
salivar do Culex. “Isso mostra que o zika conseguiu escapar de algumas
barreiras do mosquito e também vai dar uma resposta sobre o período de
incubação do vírus no mosquito.” O zika parece ter uma tendência de
tempo de replicação menor no Culex, o que poderia mostrar a eficiência
de transmissão e explicar a rapidez de dispersão da doença no Brasil.
O interesse da pesquisadora em
investigar o Culex apareceu a partir do fato de que a primeira epidemia
de zika fora de ambiente silvestre aconteceu na Micronésia (Oceania).
“Lá o Aedes é raro, e os pesquisadores não analisaram o Culex, que é
abundante em toda região tropical. Aqui no Recife, por exemplo, para
cada Aedes capturado em campo, coletamos 20 mosquitos Culex”, diz
Constância. Fonte: uol
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