"Dignos de
ficção científica: olhos biônicos, implantes tecnológicos e a impressão de
tecidos humanos em 3D podem revolucionar a vida"
Sabe
aquele ditado: "A união faz a força"? O trabalho conjunto de
engenheiros, matemáticos, físicos, enfermeiros, biomédicos e médicos de
diversas especialidades tem produzido resultados fantásticos. Não só nos
laboratórios de países com grande tradição em descobertas científicas mas aqui
mesmo, no Brasil. Além disso, a participação dos nossos pesquisadores em
estudos coordenados no exterior está facilitando o acesso a conhecimentos e tecnologia de ponta. Os frutos dessa
cooperação - alguns já disponíveis, outros em fase adiantada de maturação
- aumentam a esperança no tratamento de doenças e problemas que
comprometem a saúde e que, até pouco tempo atrás, eram considerados
insolúveis. Veja
algumas das novidades:
1 1 - Corpo em 3D
Peças de titânio customizadas estão sendo confeccionadas para recompor os ossos
da cabeça. A técnica foi criada em Campinas, interior de São Paulo, pelo
Instituto Nacional de Biofabricação (Biofabris), ligado ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Conseguimos
obter próteses com simetria perfeita", conta o cirurgião plástico
Paulo Kharmandayan, chefe do Setor de Cirurgia Plástica da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp e pesquisador do Biofabris. "Para
isso, utilizamos tomografia computadorizada, software de última geração
que projeta uma escultura digital na tela e uma impressora 3D, que
constrói, camada por camada a parte perdida".
Os
maiores beneficiados são as vítimas de acidentes de trânsito. De cada dez,
quase seis apresentam traumas faciais e um tem lesões no crânio.
Motociclistas, especialmente: em 2012, as internações nos hospitais
públicos brasileiros chegaram a 80,8 mil. A cada mês, a média continua perto de
7 mil - número que ultrapassa o registrado no pior atentado terrorista dos Estados Unidos, o
ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que deixou mais de 6
mil feridos, além de 3 mil mortos.
Hoje - Os
interessados na reconstituição do crânio por meio de impressão 3D já podem
entrar em contato com o instituto. Para fazer maquetes do corpo, é
necessário que o médico aponte a demanda e forneça a tomografia
computadorizada da área comprometida.
Amanhã -
Em breve, serão iniciados estudos para refazer outros ossos da face, como a
mandíbula. Os cientistas também estudam materiais para começar a produção
de próteses de pés e pernas amputados. Logo será possível construir
similares de joelho e quadril para substituir os originais - em caso de
doenças degenerativas que destroem suas articulações. Peças personalizadas facilitam a
adaptação. As atuais, de tamanhos definidos, não atendem a necessidades
específicas e custam caro. A meta é disponibilizá-las pelo SUS.
Pretende-se ainda "imprimir" tecidos para transplante utilizando gel
com células-tronco, o que é testado na Universidade Heriot-Watt (Edimburgo) e na Escola de Medicina de
Hannover (Alemanha).
2 -
Implante contra o Parkinson
Uma espécie de marcapasso ajuda pacientes com Parkinson na coordenação dos
movimentos, habilidade que fica comprometida com a doença. O dispositivo
promove ou inibe pulsos elétricos em regiões específicas do cérebro - a
chamada estimulação cerebral profunda, também conhecida por deep brain
stimulation ou apenas DBS. O neurocirurgião, guiado por métodos de computação
gráfica e neuroimagem, faz uma pequena abertura no crânio e insere o microeletrodo na
área onde estão as células nervosas doentes. Conectado a uma bateria que
fica na altura do peito, embaixo da pele, o implante gera corrente
elétrica. "O profissional regula o estímulo conforme a necessidade",
explica o médico Nilton Alves Lara, da equipe de neurocirurgia funcional
da Santa Casa de São Paulo. Feita com extremo rigor, a cirurgia oferece
riscos baixos (por exemplo, 0,05% de sangramento).
Em
pacientes com essa doença degenerativa, que aflige pelo menos 200 mil
brasileiros, a DBS se destina a restabelecer o circuito cerebral
danificado pela falta de dopamina, que ocasiona tremores, rigidez muscular
e dificuldade de locomoção. A estimulação pode ser indicada quando o doente não
responde bem ao tratamento-padrão, à base do medicamento levedopa, que corrige o déficit
desse neurotransmissor.
Hoje - A
equipe da Santa Casa já aplica o implante em pacientes do SUS e os planos de
saúde cobrem o procedimento que, em hospitais particulares, pode custar
150 mil reais. Há pessoas com o dispositivo há dez anos. A DBS tem sido
adotada também para tratar casos específicos de epilepsia e dores
crônicas,
além de outros distúrbios motores que podem ser até mais incapacitantes que o Parkinson - como o tremor essencial e a distonia, marcada por movimentos involuntários.
além de outros distúrbios motores que podem ser até mais incapacitantes que o Parkinson - como o tremor essencial e a distonia, marcada por movimentos involuntários.
Amanhã -
Está em estudos o uso para depressão (Universidade de Toronto, Canadá, em
parceria com a Universidade Federal de São Paulo), dependência de drogas
(Instituto Nacional de Abuso de Drogas em Maryland, Estados Unidos),
stress pós-traumático (Universidade da Califórnia, Estados
Unidos), obesidade (Universidade de West Virginia, Estados Unidos, com o
Centro de Neurociência do Hospital do Coração, em São Paulo) e doença de
Alzheimer e anorexia nervosa (Universidade de Toronto).
3 - Olho
eletrônico
Mais de 60 pessoas no mundo recuperaram parcialmente a visão graças a um
microchip. Depois da implantação dele sobre a retina, o paciente passa a
usar óculos com uma minicâmera de vídeo que capta as imagens e as envia a
um computador, mantido numa pequena bolsa a tiracolo. As imagens
são convertidas em sinais elétricos e transmitidas ao microchip, que as
direciona ao cérebro. O invento é do engenheiro biomédico Mark Humayun, da
Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, com a colaboração
de cientistas brasileiros, do departamento de oftalmologia da Unifesp, e de
pesquisadores da Inglaterra, Suíça, França e do México.
Este
dispositivo já foi aprovado e antes, havia obtido o sinal verde na União
Europeia e Arábia Saudita para uso em tratamento de retinose pigmentar,
doença genética que atinge uma em cada 4 mil pessoas e causa cegueira. No
Brasil, deve ser submetido à Anvisa ainda este ano. A cirurgia para colocação
dura até três horas - depois é preciso fazer revisões periódicas. O maior
inconveniente é o custo: 100 mil dólares.
Hoje - O
implante permite enxergar, em preto e branco, imagens rudimentares e maiores.
Por exemplo, letras grandes de manchetes de jornal, contorno de corpos e
faixa de pedestres - o que ajuda a pessoa com deficiência na autonomia
para caminhar pela cidade.
Amanhã -
Novos microchips devem melhorar a resolução da visão. O modelo atual tem 64
eletrodos. Uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
testa uma versão com 400 eletrodos. Implantes de retina também estão em
estudos na Universidade Monash (Austrália) e na Universidade de Tübingen
(Alemanha). Com o surgimento desses modelos, espera-se uma queda nos custos. E
o grupo criador do primeiro olho biônico investiga o uso de células-tronco
da retina para a recuperação da visão.
4 - Traje
robótico
Um projeto brasileiro comandado por Miguel Nicolelis, diretor científico do
Instituto Internacional de Neurociências de Natal e chefe do laboratório
de neuroengenharia da Universidade de Duke, nos Estados Unidos promete
tornar acessível um traje robótico que devolverá a capacidade de locomoção
a pessoas com paralisia. A façanha é projetada em parceria com 170
cientistas do mundo junto a instituição paulista Associação de Assistência
à Criança Deficiente (AACD). Há mais de uma década, a equipe tenta desvendar
como os sinais elétricos emitidos pelo cérebro se transformam em movimento.
Num estudo publicado em 2011, um macaco mexeu um cursor na tela do
computador apenas com a força do pensamento. Noutro, divulgado em agosto de 2012, o cérebro de um primata assimilou
um braço virtual, mostrado na tela, como se fosse seu. Há dúvidas se
Nicolelis conseguirá cumprir o prometido. Ele, confiante, segue na sua
corrida contra o tempo. Fonte: Dr. Teuto
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