"Ascite, ou barriga d’água, é o nome que se dá ao acúmulo anormal de
líquidos dentro da cavidade abdominal, num compartimento limitado pelo
peritônio (membrana que reveste também as paredes do abdômen e da pélvis
e alguns dos seus órgãos)"
Esse líquido sai dos vasos sanguíneos por
duas diferentes razões: redução da pressão oncótica ou aumento da
pressão hidrostática.
No primeiro caso, a concentração de proteínas que ajudam a conter o
líquido dentro dos vasos (veias e artérias) fica menor do que fora
deles. Como os vasos são constituídos por tecido permeável, essa
diferença de pressão permite que os fluídos atravessem suas paredes e
ocupem o espaço extravascular.
No segundo caso, a concentração de proteínas no sangue é normal, mas
ocorre um aumento da pressão hidrostática no sistema vascular provocada
por um processo infeccioso ou inflamatório. Essa reação pode distender
os vasos que irrigam o peritônio e/ou aumentam a permeabilidade
vascular, favorecendo o extravasamento de líquidos para a cavidade
abdominal.
A composição do líquido ascítico pode variar de acordo com a doença
de base. Por isso, entre outras substâncias, ele pode conter conteúdo
proteico variável, biles ou suco pancreático, por exemplo. O mecanismo responsável pela formação da ascite é semelhante ao dos edemas.
Causas
A ascite não é uma doença em si mesma, mas uma condição associada a
algumas doenças, entre elas as insuficiências renal, cardíaca e
hepática, certos tipos de câncer, algumas pancreatites, e infecções,
como a esquistossomose e a tuberculose.
A causa mais comum da ascite, porém, costuma ser a cirrose hepática,
uma doença crônica do fígado provocada pelos vírus B e C das hepatites e
pelo uso abusivo de bebida alcoólica. A principal característica dessa
enfermidade é a formação de nódulos e tecido fibrótico (cicatrizes) que
bloqueiam a circulação do sangue e provocam aumento da pressão dentro
dos vasos que convergem para a veia porta (hipertensão portal). A
cirrose pode ser responsável também por menor produção de albumina, uma
proteína que ajuda a conter a água no interior das veias e artérias. Nas
duas situações, os fluidos escapam dos vasos com mais facilidade e vão
acumular-se na cavidade abdominal.
Sintomas
No início, a ascite é um evento quase sempre assintomático. Com a
evolução do quadro, de acordo com o volume de líquido retido no abdômen,
podem surgir os seguintes sintomas: ganho injustificado de peso,
inchaço, crescimento da barriga e da cintura, dor abdominal difusa,
perda de apetite, náuseas, vômitos, dificuldade para respirar,
especialmente na posição deitada, por causa da pressão que o líquido
exerce sobre o diafragma.
Dependendo da enfermidade de base, o paciente pode apresentar, ainda,
outros sinais e sintomas, tais como fígado aumentado, emagrecimento,
edemas nas pernas e nos pés, extremo cansaço, icterícia, ginecomastia,
encefalopatia hepática.
Diagnóstico
Nas fases iniciais, a avaliação clínica é insuficiente para detectar a
presença de líquido na cavidade abdominal. O diagnóstico definitivo
depende da realização de exames de sangue e de imagem (ultassonografia,
tomografia, ressonância magnética). Outro recurso importante é a
paracentese diagnóstica, ou seja, a retirada de pequena amostra do
liquido ascítico através de punção direta por meio de uma agulha
introduzida no abdômen.
Tratamento
Basicamente, o tratamento consiste na introdução de medidas
paliativas com o objetivo de remover o líquido que se depositou na
cavidade peritoneal e controlar sua produção e extravasamento. Entre
elas, podemos destacar o uso de diuréticos, a restrição de sal na dieta
diária, a interrupção do consumo de bebidas alcoólicas e a administração
de albumina.
A prescrição de antibióticos torna-se necessária nos casos de
infecção do líquido ascítico (peritonite bacteriana espontânea), uma
complicação que pode ser grave e exige internação hospitalar durante o
tratamento.
A paracentese abdominal é um recurso terapêutico alternativo para a
retirada de líquido por punção. Ela é indicada quando as outras formas
de tratamento não surtiram o efeito desejado, ou para aliviar os
sintomas. O ideal, porém, é que o tratamento da ascite esteja sempre
voltado para o controle da enfermidade responsável pelo distúrbio.
Recomendações
Não há como prevenir o aparecimento da ascite, uma vez que ela surge
como consequência de uma enfermidade previamente instalada. O que se
pode fazer é evitar o contato com essas doenças ou, então, adotar
medidas para evitar o agravamento do quadro de ascite. Por isso, é
sempre importante:
* não exagerar no consumo de bebidas alcoólicas;
* vacinar-se contra as hepatites A e B;
* certificar-se de que o sangue das transfusões foi rigorosamente analisado;
* manter a restrição de sal, quando indicada;
*jamais entrar em contato com a água de rios, córregos, represas ou
de enxurradas. Ela pode estar contaminada pelas larvas transmissoras da
esquistossomose, que se alojam em caramujos para dar continuidade a seu
ciclo evolutivo. Fonte: drauziovarella.com.br
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