"O surgimento de um quadro depressivo durante a gravidez
coloca a mulher diante de uma situação nova e de intenso sofrimento em
uma fase marcante da vida"
O fascinante tema, de crescente interesse
científico, demanda expertise tanto por parte dos psiquiatras como dos
médicos clínicos em geral.
No mundo, mais de 70% das mulheres apresenta alguma queixa ansiosa ou depressiva na gravidez.
Estudos de prevalência mostram que mulheres em idade fértil têm em
média uma probabilidade pelo menos duas vezes maior que os homens de
apresentarem um episódio de depressão maior, sugerindo, ao contrário do que muitos pensam, que a gravidez não protege a mulher deste risco.
A prevalência de depressão
maior na gravidez varia de 10 a 16% sendo que 25% das depressões
pós-parto têm início na própria gestação. Apesar da alta frequência de
queixas depressivas na gravidez, a percepção e o manejo dos sintomas
psiquiátricos na gestação estão longe de receber a devida atenção dos
ginecologistas e obstetras, tornando a questão preocupante na medida em
que pode haver consequências negativas para a mãe e seu bebê. A presença
de variações hormonais e de estressores socioambientais na gestação
pode implicar em maiores riscos de ocorrência de transtornos mentais.
A remoção da placenta no parto
acarreta queda abrupta das taxas hormonais e consequente aumento das
alterações de humor e de quadros psicóticos na mãe. No bebê, o estresse
pré-natal se associa à agressividade, hiperatividade, ansiedade,
desatenção e prejuízo cognitivo durante o período do desenvolvimento
neuropsicomotor.
Como reconhecer o problema
A
depressão gestacional pode cursar com queixas somáticas como insônia,
falta ou ausência de apetite, enjoo e fadiga, que por serem comuns à
gestação não devem ser vistas como sintomas depressivos. O comportamento
introspectivo e a diminuição da libido também são comuns às duas
situações. As queixas afetivas e cognitivas são as mais características
da depressão gestacional e incluem humor deprimido, anedonia (ausência
da sensação de prazer), choro fácil, ansiedade, medo, sentimentos de culpa, desesperança, irritabilidade e desinteresse pela gravidez.
A ideação suicida é relatada apesar do risco de
suicídio nesta população ser baixo e até considerado um fator protetor
por alguns autores. Outras situações que contribuem para a presença de
depressão maior na gravidez são falta de planejamento, não aceitação,
ambivalência, perda ou separação de um ente querido, fracasso escolar,
desemprego, má condição de trabalho, dívidas, conflito conjugal,
ausência do companheiro e falta de apoio familiar ou do cônjuge.
Igualmente, história familiar de depressão, gravidez de risco, idade
materna precoce (adolescência), grande número de filhos, distúrbio
disfórico pré-menstrual (uma TPM mais intensa) e história prévia de
abortos também se associam a maiores índices de depressão gestacional.
Mulheres
com depressão prévia têm mais recaídas, as taxas podendo chegar a 80%, a
maioria já no 1º trimestre da gravidez. É importante haver uma relação
estreita e de confiança entre a gestante e seu médico ao longo da
gravidez.
Tratando a depressão na gravidez
O
tratamento adequado da depressão gestacional é fundamental para a boa
saúde da mãe e seu bebê e compreende terapias somáticas e não somáticas.
Nos casos leves recomenda-se a psicoterapia e o apoio psicossocial, já
os casos moderados a graves têm demanda de tratamento farmacológico.
Quando ocorrer uma depressão refratária a essas abordagens, com risco de suicídio ou psicose, a eletroconvulsoterapia é a intervenção mais indicada e mais eficaz.
A
prescrição de medicamentos em grávidas exige a consideração de alguns
pontos, como os potenciais danos da droga à gestante e ao feto, e por
outro lado, os prejuízos da não medicação. Algumas possíveis
consequências do uso de medicação podem ser aborto, morte neonatal,
retardo do desenvolvimento fetal, parto prematuro, intoxicação ou
abstinência ao uso da droga pelo recém-nascido e malformação fetal.
O
maior medo relatado pelas mães é o risco de malformação fetal que vai
do 12º dia (instalação da circulação feto placentária) à 12ª semana
(término da formação dos órgãos). A prevalência desse problema é de 2 a
4% e em 70% dos casos a causa é desconhecida. Ou seja, em qualquer das
opções (usar ou não o antidepressivo) é impossível garantir se o bebê
vai nascer sem qualquer anomalia. A gestante em uso de medicação
psicotrópica deverá permanecer em uso dela na gestação. A retirada do
antidepressivo logo antes do pós-parto pode trazer risco significativo
de recaída logo após o parto. Fonte: minhavida.com.br
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