"Especialista rebate críticas sobre essa terapia e defende sua importância contra infecções que se espalham pelo mundo"
No ano de 1918, a epidemia de gripe
espanhola progredia rapidamente. Em outubro daquele ano, só nos Estados
Unidos, 195 mil pessoas morreram do problema — algumas, apenas 18 horas
após o início dos sintomas. Medo, tensão e insegurança entre a
população dominavam o cenário.
Segundo Sandra Perko, que escreveu um livro sobre o
tratamento homeopático da gripe influenza, médicos homeopatas tiveram
sucesso no tratamento e redução de mortes naquela época. Aliás, é
histórico o crescimento da homeopatia durante epidemias, e relatos estão
presentes em muitos livros e referências, dando conta do sucesso que
essa terapêutica apresentava na prevenção e no tratamento.
Você pode pensar que isso só valia para outros tempos,
quando não existiam vacinas para muitas doenças. Mas, ainda hoje, mesmo
com vacinas convencionais para a gripe, que tem sua composição alterada
anualmente, as estatísticas falam em mil mortes ao ano nos Estados
Unidos só por essa doença.
Samuel Hahnemann, tido como fundador da homeopatia, criou o
conceito de “gênio epidêmico”. É o seguinte: para medicar uma doença
epidêmica, é necessário antes de tudo anotar os sintomas que diversos
doentes apresentam.
Em seguida, deve-se procurar um medicamento homeopático que
sirva para a maior parte dessas consequências. O remédio pode ser usado
tanto para tratar os doentes como para evitar o surgimento dos mesmos
sintomas. Isto é, uma prevenção específica para aquela doença.
A ideia básica da homeopatia, quando dizemos que atua pela
lei da semelhança, é a de que uma substância que provoca sintomas em uma
pessoa saudável pode ser usada para tratar os mesmos sintomas em outra
doente. Assim, a Eupatorium perfoliatum, uma planta americana,
provoca em indivíduos saudáveis dores no corpo, nas costas, na cabeça e
nas articulações, além de febre. Como dá pra notar, são sinais
semelhantes aos de vítimas da dengue.
Segundo a lei da semelhança, você pode preparar um medicamento seguindo a farmacotécnica homeopática com a Eupatorium
para tratar esses doentes. No Brasil, foram feitos alguns trabalhos
sobre prevenção e tratamento da dengue dessa forma. Residentes de São
José do Rio Preto (SP) e Macaé (RJ) tomaram Eupatorium de maneira
preventiva, sozinho ou em conjunto com outros remédios homeopáticos
também adequados para a dengue, e foi registrado um número menor de doentes nessas áreas.
Outra possibilidade que os homeopatas têm é tratar certas
infecções através do preparo de medicamentos homeopáticos feitos com o
agente etiológico da doença. A premissa básica segue sendo a da lei da
semelhança. Ora, nada mais semelhante do que o igual.
Dito de outra forma, dizemos que os sintomas provocados por
uma bactéria, por exemplo, podem ser tratados ou prevenidos com uma
solução homeopática feita a partir da mesma bactéria. É a chamada lei da
igualdade.
O preparo dos medicamentos homeopáticos está perfeitamente descrito na Farmácia Homeopática Brasileira.
Os medicamentos que aparecem nesse texto publicado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, assim como seus métodos de
preparo, são oficiais e podem ser conduzidos no país.
Mas será que isso funciona? Vou contar um caso recente: em
2011, houve uma grande enchente em Cuba, levando a um crescimento da
leptospirose. Esta é uma doença infecciosa causada por uma bactéria
chamada Leptospira, presente na urina de ratos e de outros animais.
Na época, estimava-se 30 casos novos por semana a cada 100
mil habitantes. O Instituto Finlay, uma espécie de Butantan cubano,
decidiu produzir em poucas semanas largas doses de um medicamento
homeopático feito a partir da Leptospira, em uma diluição muito grande
(outro preceito da homeopatia). Elas foram distribuídas para toda a
população da ilha, atingindo cerca de 98% da população.
Em apenas três semanas, a incidência semanal diminuiu de 30
para 3 casos para cada 100 mil habitantes. Isso a um custo baixo, com
rápida produção, sem a ocorrência de efeitos colaterais e com uma boa
aceitação pela população. E sem necessidade de pagamento de royalties a
outra empresa.
Também na Índia, onde a homeopatia é tão apoiada que existe
um Ministério da Saúde especial para homeopatia, ayurveda e outras
terapias tradicionais, há diversos projetos que testam o uso de
medicamentos homeopáticos na prevenção e tratamento de doenças como
dengue, zika e chikungunya.
Atualmente, há vacinas para diversas doenças. A importância
da prevenção feita com a homeopatia de fato não é mais tão essencial
como foi no passado. Mas isso não invalida a possibilidade, que pode ser
usada quando não há proteção convencional específica, como ainda é o
caso da dengue, zika e chikungunya.
Aliás, se houver efeitos colaterais importantes após a
vacinação convencional, medicamentos homeopáticos podem tratar dos
sintomas que aparecerem. Isso tem sido usado por diversos médicos
homeopatas e pediatras.
A terapêutica homeopática não é uma ameaça a ninguém. São
raros os médicos homeopatas que contraindicam a vacinação convencional
hoje em dia. Até porque as vacinas são úteis.
Mas é importante que tenhamos outras possibilidades para
enfrentar, por exemplo, novas doenças epidêmicas, ou para pessoas que
apresentem contraindicação à imunização convencional. A liberdade de
escolha para um método terapêutico que é oficial em nosso país deve ser
mantida. Afinal, como diz uma grande homeopata: “Homeopatia, não
acredite! Experimente!” Fonte: saude.abril.com.br
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