"Os medicamentos benzodiazepínicos, tarja preta, estão entre os mais consumidos no Brasil. Recomenda-se que seu uso seja breve – mas há quem use por anos. Quais os riscos?"
A dúvida
O que a ciência diz
O diazepam faz parte de um grupo de medicamentos chamados benzodiazepínicos. É uma lista que inclui ainda outras substâncias, como o bromazepam, clobazam e clonazepam. O grupo conta com nomes comerciais famosos, como o Valium e o Rivotril.
Os benzodiazepínicos são medicamentos absorvidos rapidamente pelo organismo e que atuam estimulando a ação de um neurotransmissor chamado GABA – ácido gama-aminobutírico. Quando liberado no cérebro, esse neurotransmissor produz efeito inibitório, tranquilizante. Essa propriedade torna os benzodiazepínicos úteis no controle de crises de ansiedade aguda, quando os sintomas são graves, porém passageiros: Eles funcionam como uma espécie de extintor de incêndio – dão resultado depois de poucas horas.
Desde que chegaram ao mercado, no começo dos anos 1960, os benzodiazepínicos são receitados para tratar uma variedade de problemas: além dos transtornos de ansiedade, é comum que sejam prescritos para insônia e casos de espasmos musculares. O surgimento dos benzodiazepínicos foi recebido com entusiasmo pelos médicos. Eles eram considerados mais seguros que os barbitúricos, medicamentos usados até ali para o tratamento de insônia e ansiedade, e que acumulavam relatos de overdose e casos de dependência química.

Não existe um consenso quanto a qual o tempo-limite de utilização desses remédios. Mas vários organismos, como o Comitê Britânico para Segurança de Medicamentos e a Associação Canadense para os Transtornos de Ansiedade, recomendam que seu uso não exceda a quatro semanas. A indicação é que esses medicamentos sejam usados pelo menor tempo possível. No caso do transtorno de ansiedade generalizada – o mal crônico de que o Lipe sofre –, a indicação é que o tratamento prolongado seja feito com psicoterapia associada ao uso de antidepressivos. E que se recorra aos benzodiazepínicos somente nos momentos de crise aguda.
O uso prolongado é desaconselhado porque esses medicamentos causam efeitos colaterais. É comum quem os usa relatar aumento da sonolência, dificuldade para se concentrar e amnésia temporária. Existe o temor, também, de que usar Rivotril, diazepam ou outro benzodiazepínico por muito tempo possa aumentar os riscos de dependência química. Mas a incidência desse problema é menor do que se imagina. No Brasil, a estatística mais recente, de 2005, sustenta que 0,5% da população sofre com dependência em relação a essas substâncias. É uma incidência mais baixa que a do vício em maconha, uma droga considerada com baixo potencial viciante. Mas essa é uma questão que divide especialistas.
Por
muito tempo, o potencial dos benzodiazepínicos para causar dependência
foi ignorado. Houve um tempo em que, no Brasil, eles podiam ser
vendidos sem receita. A dependência em relação
aos benzodiazepínicos é considerada difícil de ser diagnosticada. Há
algumas condições necessárias para o diagnóstico de dependência química.
Uma delas é a ocorrência de um fenômeno chamado síndrome de abstinência.
Ela foi confirmada, para os benzodiazepínicos, já nos anos 1980. Uma
revisão de estudos publicada em 1993, conduzida por pesquisadores do Imperial College de Londres, concluiu que, depois de quatro semanas de uso, 35% dos usuários de benzodiazepínicos que tentavam interromper o consumo do remédio experimentavam episódios de ansiedade aguda, náuseas e dor de cabeça.
Outra condição é o desenvolvimento de resistência à ação da droga: Tradicionalmente, considera-se que a pessoa desenvolveu dependência química quando precisa aumentar a dosagem do remédio para ter os mesmos resultados que costumava experimentar. Isso dificilmente acontece com os benzodiazepínicos, no caso do tratamento dos transtornos de ansiedade. Diversos trabalhos já identificaram pacientes que consumiram esses remédios por anos, sem aumento da dosagem. Em 2007, uma equipe médica avaliou o consumo de benzodiazepínicos por frequentadores de uma Unidade Básica de Saúde em Campinas, no interior de São Paulo. A ideia era identificar pessoas que usassem esses ansiolíticos cronicamente, por mais de três anos. Foram identificadas 48 pessoas nessa situação: a maioria – 86% – eram mulheres, com cerca de 57 anos. Em média, elas haviam tomado o remédio, diariamente, pelos últimos dez anos – mas sem aumentar a dosagem. Pelos critérios tradicionais, somente 12 delas podiam ser consideradas quimicamente dependentes.
Hoje, existe uma preocupação crescente em relação a esse uso crônico, ainda que ele não indique, necessariamente, um caso de dependência química: Porque existe, ainda, o risco de dependência psicológica. A sensação de que sem o remédio a pessoa não conseguirá viver bem. Quanto mais prolongado o uso, maiores as chances de isso acontecer.
Outra condição é o desenvolvimento de resistência à ação da droga: Tradicionalmente, considera-se que a pessoa desenvolveu dependência química quando precisa aumentar a dosagem do remédio para ter os mesmos resultados que costumava experimentar. Isso dificilmente acontece com os benzodiazepínicos, no caso do tratamento dos transtornos de ansiedade. Diversos trabalhos já identificaram pacientes que consumiram esses remédios por anos, sem aumento da dosagem. Em 2007, uma equipe médica avaliou o consumo de benzodiazepínicos por frequentadores de uma Unidade Básica de Saúde em Campinas, no interior de São Paulo. A ideia era identificar pessoas que usassem esses ansiolíticos cronicamente, por mais de três anos. Foram identificadas 48 pessoas nessa situação: a maioria – 86% – eram mulheres, com cerca de 57 anos. Em média, elas haviam tomado o remédio, diariamente, pelos últimos dez anos – mas sem aumentar a dosagem. Pelos critérios tradicionais, somente 12 delas podiam ser consideradas quimicamente dependentes.
Hoje, existe uma preocupação crescente em relação a esse uso crônico, ainda que ele não indique, necessariamente, um caso de dependência química: Porque existe, ainda, o risco de dependência psicológica. A sensação de que sem o remédio a pessoa não conseguirá viver bem. Quanto mais prolongado o uso, maiores as chances de isso acontecer.

Há também o temor de que os benzodiazepínicos sejam receitados, por longos períodos, para pessoas que não precisam deles. Na amostra de pacientes estudada, 31% tinham depressão: um mal que deveria ser tratado com outros recursos, e não com benzodiazepínicos. O problema é que, muitas vezes, os sintomas da depressão e dos transtornos de ansiedade se assemelham. Nessa amostra, eram também frequentes os casos de pacientes que tomavam benzodiazepínicos por recomendação de especialistas que, em teoria, não eram os mais indicados para receitá-los: 42% das receitas tinham sido emitidas por cardiologistas, e 3% por ginecologistas.
O que eu faço?
A recomendação, realmente, é que seu uso não exceda a quatro semanas – e seja retomado somente se ocorrerem casos de crise aguda, que exijam ação rápida. Mas há momentos em que o uso por períodos maiores é justificável no tratamento de transtornos de ansiedade: Há casos em que a pessoa reage mal aos tratamentos com antidepressivos. Nessas situações, pode acontecer de o benzodiazepínico ser mantido por mais tempo, sem prejuízos para o paciente. Em todo caso, essa é uma decisão que merece ser discutida com seu médico. Fonte: epoca.globo.com
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