"A onicofagia começa durante a infância ou início da adolescência e pelo
menos metade dos indivíduos em idade escolar apresenta o distúrbio"
A lembrança de uma prova na escola, um dia tenso no trabalho ou um filme
de suspense no cinema bastam para que as mãos sejam automaticamente
levadas à boca. Adeus, unhas. Após a destruição das estruturas que
protegem a ponta dos dedos, vem a difícil missão de esconder as feridas e
as deformações que surgem. A situação é velha conhecida de quem sofre
com onicofagia, nome dado ao comportamento crônico e descontrolado de
roer e arrancar unhas e cutículas com os dentes. Um grupo cada vez maior
de pesquisadores tem reservado mais atenção ao problema. Um
levantamento publicado recentemente na revista especializada Acta
Dermato — Venereológica indica que o hábito é um distúrbio emocional de
causas variadas e ligado a problemas como ansiedade.
A onicofagia começa durante a infância ou início da adolescência e pelo menos metade dos indivíduos em idade escolar apresenta o distúrbio. Para muita gente, trata-se de uma compulsão mais difícil de superar que o tabagismo. Mesmo assim, ela costuma ser ignorada por pacientes e médicos, que ainda consideram o hábito inofensivo, com consequências meramente estéticas — o que não é correto. “É surpreendente que esse problema seja raramente relatado na literatura e não tenha sido muito estudado até agora. O prejuízo não é apenas estético. Foi claramente demonstrado que roer as unhas de maneira crônica pode causar anormalidades nos dentes, tais como recessão gengival”, argumenta o principal autor do estudo, Przemyslaw Pacan. Ele acrescenta que o hábito pode causar complicações graves, como infecções da pele ao redor das unhas, que sofrem um encurtamento irreversível.
A onicofagia começa durante a infância ou início da adolescência e pelo menos metade dos indivíduos em idade escolar apresenta o distúrbio. Para muita gente, trata-se de uma compulsão mais difícil de superar que o tabagismo. Mesmo assim, ela costuma ser ignorada por pacientes e médicos, que ainda consideram o hábito inofensivo, com consequências meramente estéticas — o que não é correto. “É surpreendente que esse problema seja raramente relatado na literatura e não tenha sido muito estudado até agora. O prejuízo não é apenas estético. Foi claramente demonstrado que roer as unhas de maneira crônica pode causar anormalidades nos dentes, tais como recessão gengival”, argumenta o principal autor do estudo, Przemyslaw Pacan. Ele acrescenta que o hábito pode causar complicações graves, como infecções da pele ao redor das unhas, que sofrem um encurtamento irreversível.
Em seu estudo, Pacan investigou a
incidência do problema em 339 jovens estudantes de medicina. Os
resultados mostraram que 46% dos entrevistados tinham ou já haviam tido
onicofagia. As mulheres apresentaram maior frequência no transtorno e
agiam de forma mais inconsciente. Já 51,5% dos homens admitiram perceber
claramente o momento em que levavam a mão à boca. Quanto às
comorbidades, boa parte dos adeptos foi diagnosticada com ansiedade
(22,5%), e o TOC apareceu com menos frequência (3,1%).
“A onicofagia parece uma variante de compulsão e pode conduzir à destruição das unhas. Alguns indivíduos relatam prazer e relaxamento, e algumas observações sugerem comorbidades (males associados), como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) ou os transtornos de ansiedade”, diz. As causas ainda são desconhecidas. O que se descobriu até agora, no entanto, é que, para muita gente, o ato é automático, especialmente quando a pessoa está envolvida em uma atividade imersiva, como ver televisão ou ler um livro. Por outro lado, há indivíduos que roem as unhas de maneira intencional. Pacan aponta ainda outro motivo. “Também pode ser resultado de uma necessidade de ter unhas perfeitas. Algumas pessoas tentam morder as irregularidades, mas o comportamento traz mais prejuízos que ganhos. Curiosamente, mesmo que as unhas fiquem feias depois, elas continuam”, relata.
Qualidade de vida
“A onicofagia parece uma variante de compulsão e pode conduzir à destruição das unhas. Alguns indivíduos relatam prazer e relaxamento, e algumas observações sugerem comorbidades (males associados), como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) ou os transtornos de ansiedade”, diz. As causas ainda são desconhecidas. O que se descobriu até agora, no entanto, é que, para muita gente, o ato é automático, especialmente quando a pessoa está envolvida em uma atividade imersiva, como ver televisão ou ler um livro. Por outro lado, há indivíduos que roem as unhas de maneira intencional. Pacan aponta ainda outro motivo. “Também pode ser resultado de uma necessidade de ter unhas perfeitas. Algumas pessoas tentam morder as irregularidades, mas o comportamento traz mais prejuízos que ganhos. Curiosamente, mesmo que as unhas fiquem feias depois, elas continuam”, relata.
Qualidade de vida
Ranaia
Tatsukawa, dermatologista do Hospital Santa Luzia, explica que roer as
unhas de forma crônica provoca microtraumas nos dedos. As lesões
possibilitam a entrada de bactérias, resultando na paniculite, uma
inflamação da pele na região mordida. “Com o tempo, as unhas passam a
crescer com defeito e ficam permanentemente distróficas. Observamos em
consultório que há muita ansiedade por trás, inclusive em crianças.
Quanto mais cedo esse hábito for tratado, mais chances há de superação”,
alerta a especialista.
O patologista clínico Izidro Bendet, do
Laboratório Exame, destaca outra questão: muita sujeira se concentra nas
mãos. Passageiros de transporte público que roem unha, por exemplo,
carregam toda a sorte de bactérias encontradas nos veículos coletivos,
aumentando a possibilidade de infecções. “Geralmente, esses
micro-organismos não causam doenças, mas podem ocasionar problemas
respiratórios e gastrointestinais, como diarreia e gripes, pois a mão
contaminada com vírus tem contato direto com boca”, alerta o médico.
Ainda
que haja dor, ela não parece suficiente para inibir o comportamento. Às
vezes, é até estimulante. “A dor prende nossa atenção. É difícil pensar
ou fazer outra coisa quando ela se faz presente. Assim, se uma pessoa
está ansiosa e começa a roer as unhas, ela rapidamente se distrai da
fonte de ansiedade, gerando uma situação de alívio e prazer com a
estimulação do tato e do paladar”, explica o psicólogo Felipe Burle dos
Anjos. Ele ressalta que a ansiedade não é espontânea e está relacionada a
alguma situação. “Frequentemente, a pessoa não sabe o que a deixa
ansiosa. A psicoterapia é uma prática que ajuda a descobrir a origem
desse estado e a lidar com ela.”
Pacan ressalta que todas essas consequências comprometem a qualidade de vida, pois “as pessoas ficam infelizes ao tentarem parar com o comportamento, sem conseguir”. O autor diz que a frustração provoca na pessoa vergonha e medo de ser considerada fraca. Felipe dos Anjos aconselha a pessoa que sofre com o problema a procurar saber mais sobre a ansiedade, as causas e as consequências. A psicoterapia é a melhor ferramenta, diz, e os remédios devem ser utilizados em último caso. “Outras coisas também podem ajudar a lidar com a ansiedade, como praticar esportes ou artes”, indica o especialista.
Classificação
Pacan ressalta que todas essas consequências comprometem a qualidade de vida, pois “as pessoas ficam infelizes ao tentarem parar com o comportamento, sem conseguir”. O autor diz que a frustração provoca na pessoa vergonha e medo de ser considerada fraca. Felipe dos Anjos aconselha a pessoa que sofre com o problema a procurar saber mais sobre a ansiedade, as causas e as consequências. A psicoterapia é a melhor ferramenta, diz, e os remédios devem ser utilizados em último caso. “Outras coisas também podem ajudar a lidar com a ansiedade, como praticar esportes ou artes”, indica o especialista.
Classificação
A onicofagia é mencionada no item F98.8 da Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde — 10ª Revisão (CID-10). A publicação qualifica o hábito como um distúrbio emocional, ao lado de outras práticas, como masturbação excessiva, chupar o dedo e cutucar o nariz compulsivamente. No entanto, os critérios de diagnóstico não são bem descritos para esse grupo de doenças.
Maioria inofensiva
Usando
técnicas de sequenciamento de genes, pesquisadores da Universidade do
Colorado, nos EUA, encontraram mais de 4,7 mil espécies de bactérias
distribuídas entre as mãos de 51 participantes de um estudo. Em média,
uma única palma hospeda 150 cepas diferentes. As duas palmas
compartilham apenas 17% de todas as estirpes, uma variação maior do que a
encontrada de uma pessoa para a outra, que é de 13%. Por sorte, a
grande maioria dos micro-organismos não é patogênica. Os resultados
foram publicados pela revista PNAS.
Duas perguntas para:
Duas perguntas para:
Felipe Burle dos Anjos, doutorando em psicologia social, do trabalho e das organizações pela UnB. Especialista em análise comportamental clínica e parceiro do grupo Medicando
O hábito de roer unhas começa nos primeiros anos da infância e se instala com o passar do tempo. Como é o desenrolar do processo?
Roer unhas pode ser um
comportamento normal, fruto do ato de a criança explorar e cuidar do
corpo. Mas roer unhas como um hábito nervoso está relacionado a um nível
de ansiedade intenso e constante, podendo se tornar algo patológico.
Roer unhas é um sintoma de um problema ou transtorno de ansiedade. Cada
um reage de uma maneira à ansiedade: uns podem atacar a geladeira,
outros perdem o apetite. Nossa sociedade estimula ansiedade e estresse.
Isso não é exclusividade dos adultos, a infância cada vez mais sofre com
cobranças. Por serem menos maduras e terem menos recursos cognitivos e
comportamentais, as crianças são mais vulneráveis à ansiedade.
Por que é tão difícil parar de roer as unhas?
As unhas são acessíveis. Elas estão sempre perto da gente. Além disso, o hábito cumpre a função de alívio, por exemplo. É tão difícil parar principalmente porque boa parte dos tratamentos são sintomáticos e miram no sintoma, não na causa do problema. Algumas “técnicas” incluem pimenta nas mãos, esmalte com gosto ruim, medicação e castigo. A melhor maneira de resolver o problema, no entanto, é desenvolver comportamentos para que a pessoa lide diretamente com o problema ou busque ajuda. Assim, trabalhamos o fortalecimento em vez de focarmos apenas nos pontos fracos e vulneráveis. Fonte: uai.com.br
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