"Todos nós estamos geneticamente preparados para a felicidade, mais especificamente para a felicidade
hedônica"
A palavra grega hedonê significa “prazer” e dela provém o
termo hedonismo. O precursor do hedonismo foi o filósofo grego
Aristuppus (435-366 BCE) que defendia a boa vida pela experiência de
maximização do prazer e minimização da dor, e que a felicidade surgiria como a totalidade dos momentos hedônicos experienciados pela pessoa. Basicamente a felicidade
hedônica está relacionada com os momentos prazerosos associados aos
nossos cinco sentidos, e com as experiências positivas que estes nos
proporcionam, como por exemplo, o calor do sol, ou o sabor doce e a
sensação refrescante de um gelado, ou o êxtase de ver a nossa equipa de
eleição vencer. Deste ponto de vista podemos considerar que felicidade é a soma dos vários momentos prazerosos experienciados. Numa perspectiva diferente temos a felicidade
heudaimônica. Aristóteles, filósofo grego propulsor do eudaimonismo,
postula que toda atividade humana tem um fim. Eudaimonia, enquanto
estado subjetivo, envolve os sentimentos que ocorrem quando a pessoa se
move em direção à autorrealização para que possa desenvolver os seus
potenciais e conferir propósito à sua vida.
Acredito que ambas as perspectivas anteriores acerca da felicidade
estão presentes na vida de cada um de nós. Por vezes, afastamo-nos das
boas sensações que o nosso corpo nos pode proporcionar, assim como dos
nossos objetivos e propósitos de vida, emergindo o sofrimento, angustia e
infelicidade. Se você percepciona que tem um conjunto de comportamentos
que vão destruindo a sua felicidade, proponho que reflita sobre as possíveis formas de agir e pensar que podem estar contribuindo para o seu mal-estar, e assim, mudar a vida para melhor.
1. VOCÊ FICA ANGUSTIADO ACERCA DO SEU FUTURO E ESQUECE O CAMINHO JÁ PERCORRIDO
Antecipar o futuro de forma angustiante é
a receita para se sentir desanimado. Este mau hábito aumenta
drasticamente as chances de desistir dos seus sonhos, fazendo-o sofrer
por antecipação. Em vez de concentrar-se na sua perspectiva de futuro
catastrófica, olhe para aquilo que já conseguiu e aprendeu para que
possa organizar-se face aquilo que pretende melhorar ou atingir.
2. VOCÊ TEM MEDO DE CAMINHAR PELO SEU PÉ, SUPORTANDO-SE EM DEMASIA NOS OUTROS
Esta é uma grande armadilha da qual você
necessita ficar atento. Ainda que possa necessitar de algum tipo de
suporte para algumas coisas ou em alguma fase da sua vida, não confunda
isso com negação das suas capacidades para atingir o que pretende. É
assim que as pessoas podem enraizar uma mentalidade de vítima,
ou ficarem dependentes de terceiros, tendo de aceitar situações que não
lhes servem, como por exemplo, permanecer num relacionamento abusivo.
A verdade é que a grande maioria das pessoas tem o poder para se propor
às coisas que pretende alcançar na vida. Mas para que se comprometa com
essa ideia e passe a agir com essa crença, primeiro precisa perceber
que pode estar privando-se da oportunidade de fazer isso acontecer. Sim,
isso é exatamente o que muitas pessoas fazem. Simplesmente não dão a
elas mesmas a oportunidade de tentar pelos seus próprios meios,
levando-as a desenvolver medo de caminhar pelo seu próprio pé.
3. VOCÊ ACHA QUE SÓ IRÁ SER FELIZ QUANDO ATINGIR UM DETERMINADO OBJETIVO
Quando focamos a nossa felicidade
no futuro, em algo que queremos alcançar para sermos verdadeiramente
felizes, podemos entrar num caminho tortuoso e miserável. “Só vou ser feliz
quando tiver o corpo perfeito.” Neste exemplo, a pessoa está a fazer
uma afirmação absolutista ancorada a um objetivo específico, remetendo
todas as outras áreas da sua vida para segundo plano. Coloca um filtro
extremamente redutor, quer em termos temporais, quer em termos de outros
objetivos alcançados ou prazeres experienciados. Nesse meio tempo, é
usual a pessoa sentir-se miserável porque o seu corpo não cumpre os
padrões pretendidos. Se este tipo de pensamento for sendo aplicado ao
longo do tempo e generalizado a outros objetivos que a pessoa se
proponha, a obsessão instala-se e a felicidade é afetada negativamente. Cuidado com este ciclo de pensamento a que podemos chamar de armadilha da felicidade.
Mesmo que a pessoa atinja os seus objetivos, por exemplo, fique com o
corpo em forma, ganhe mais dinheiro, rapidamente se propõe a outros
objetivos e encontrará novos motivos para continuar infeliz e a
sentir-se miserável.
Ainda que seja saudável e benéfico traçar objetivos e propor-nos a novos desafios que possam gerar bem-estar e contribuir para a nossa felicidade, é contraproducente colocar a totalidade da nossa satisfação de vida na obtenção de um determinado resultado.
Ainda que seja saudável e benéfico traçar objetivos e propor-nos a novos desafios que possam gerar bem-estar e contribuir para a nossa felicidade, é contraproducente colocar a totalidade da nossa satisfação de vida na obtenção de um determinado resultado.
4. VOCÊ VÊ A FELICIDADE COMO ALGO EXTERIOR AO INVÉS DE ALGO INTERIOR
Provavelmente, em comparação com os outros, você ache que ser feliz é ter melhor currículo, ganhar mais dinheiro, ou ter a esposa mais linda. No entanto, muitas das pessoas que não possuem isso também são felizes. Obviamente que as nossas conquistas, conforto e bens materiais podem contribuir para o nosso bem-estar e promover o nosso sentimento de felicidade, mas resumi-la a isso é destruí-la. Talvez o hábito tenha sido enraizado devido a uma sociedade extremamente competitiva, e o sentimento miserabilista imperar para aqueles que julgam não ter o que supostamente acham que deveriam ter. A felicidade é algo interno, na relação que estabelecemos conosco mesmos, com os outros, com o mundo em geral e no equilíbrio entre o que desejamos e aquilo que obtemos. É um sentimento, e você pode senti-lo a qualquer momento. Da próxima vez que você diga a si mesmo que primeiro precisa de algo para ser feliz: pense novamente. A afirmação que está fazendo é racional, razoável e saudável?
5. VOCÊ NÃO CUIDA DE SI MESMO
Certamente você tem consciência de um
conjunto de atividades que deveria realizar para promover e manter a sua
saúde. Sabe que deve exercitar-se mais, comer alimentos baixos em
gordura, descansar, mas pode ter vindo a descuidar-se. Você sabe que
deveria ser mais autodisciplinado. Como resultado, pode sentir-se
culpado. Um bom estado de saúde é sem dúvida um enorme suporte para a felicidade. Sabemos disso principalmente quando sentimos um abalo na nossa saúde. Faça o que tiver ao seu alcance para não destruir a sua felicidade, cuidando de você mesmo. Livre-se da culpa que pode sentir por não ter vindo a ter alguns cuidados consigo e passe à ação.
6. VOCÊ DESEMPENHA O PAPEL DE VÍTIMA
Você não precisa de queixar-se
taxativamente para desempenhar o papel de vítima na sua vida. Digamos
que você “não pode” fazer isto ou aquilo, ou acha que não consegue sem
se propor a isso? Provavelmente está jogando o papel de vítima. Pode não
ter plena consciência disso, ou ter benefícios subjacentes ao
desempenhar esse papel. Por exemplo, se você está acima do peso e
sente-se vítima devido a isso, pode secretamente sentir-se orgulhoso por
ir contra as revistas que constantemente dispararam a ideia de que você
deveria emagrecer. Ou, se você está sobrecarregado, pode começar a
gabar-se para os outros acerca da quantidade de coisas que faz e tem à
sua responsabilidade. Agora que ficou mais alerta para a possibilidade
de poder estar a desempenhar o papel de vítima, pergunte a si mesmo:
“Quais as vantagens que recebo de estar na minha situação atual?” Seja
honesto, e liste pelo menos sete. Você pode ficar surpreendido. Essas
supostas vantagens podem estar a prendê-lo na sua vitimização.
7. VOCÊ FOCALIZA EM DEMASIA A SUA ATENÇÃO NOS ERROS E NO QUE É MAU
Aquilo em que focamos a nossa atenção
expande-se. Se você desenvolveu um filtro demasiado estreito para tudo o
que possa estar mal, para os erros e fracassos, para os seus e os dos
outros, certamente está a ser alvo de estímulos negativos. Não quero
passar a mensagem que não devemos prestar atenção para aquilo que não
está bem na nossa vida, ou que não devemos analisar os erros que
cometemos. Ter consciência do que acontece de negativo na nossa vida
pode ser vantajoso. No entanto, não deveremos ficar presos apenas nos
cenários negativos. O que importa fazer é analisar o que precisa de ser
melhorado, reparado ou aprendido e depois orientar a atenção e recursos
para a construção de uma solução. Ficar a ruminar nos erros ou nas
coisas ruins, alimentar tudo isso e desenvolver uma crítica negativa
destruidora, nada de bom trás à pessoa que desenvolve essa forma
perniciosa de olhar a vida.
8. VOCÊ ACHA QUE AS OUTRAS PESSOAS NÃO GOSTAM DE SI
Acredito que algumas pessoas possam não
gostar. Não podemos agradar a Gregos e Troianos. Mas acredito também que
existem pessoas que gostam de você. Se a ideia de que os outros não
gostam de você paira na sua mente, faça o exercício saudável de
contestação. Faça uma lista das dez pessoas que tem a certeza que gostam
de você. Se conseguiu completar a lista, não pode continuar a ter essa
crença irrealista. Se eventualmente a ideia permanece, perceba o que
pode ter vindo a fazer para que isso aconteça. Ainda assim, as pessoas
que não o conhecem não podem ter razões para não gostar de você.
Principalmente para as pessoas que conhece pela primeira vez, você tem a
oportunidade de estabelecer uma relação sustentável e apreciativa. Se
for o seu caso, esforce-se por isso.
9. VOCÊ RACIONALIZA O SEU MAU COMPORTAMENTO
Todos nós sem exceção temos momentos na
nossa vida que se encaixam no que podemos chamar de mau comportamento.
Podemos ser agressivos nas nossas palavras, ou recorrentemente sermos
injustos com determinada pessoa, ou não prestar atenção com quem
necessita da nossa ajuda. Mas se de forma crónica nos comportamos
indevidamente e racionalizamos esse comportamento desajustado numa
tentativa de proteção do ego, tornamo-nos cegos à melhoria
comportamental. Ter maus comportamentos não faz necessariamente de nós
más pessoas. Faz de nós uma pessoa que se comporta de forma desadequada,
podendo prejudicar a si mesmo e aos outros. Nesta linha comportamental
não existe espaço para o florescimento pessoal, e com isso a felicidade é destruída.
10. VOCÊ COLOCA A CULPA DE TUDO EM SI MESMO
Esta estratégia de colocarmo-nos no
epicentro da culpa de tudo o que acontece de menos bom na nossa vida,
apelido-a de uma fuga para o lado. A pessoa assume que tem pouco valor,
pouca habilidade ou poucos recursos e por isso é normal que seja a
culpada das coisas menos boas que lhe acontecem ou que estão
relacionadas com ela. Se é o seu caso, não se culpe a si mesmo por tudo e
por nada, só para fugir à realidade e assim ficar no seu lado
confortável. A culpa pode já ter-se tornado em algo confortável e que
tem à mão para lidar com as situações incômodas. Tente separar-se da
situação e, em seguida, analise melhor o que pode estar a acontecer e
perceba se realmente é adequado culpabilizar-se ou se é mais benéfico
perceber o que pode mudar nas suas ações ou na situação, para que numa
próxima oportunidade possa fazer melhor.
11. VOCÊ É UM REALISTA FOCADO NO PASSADO
Você acha que ser realista irá torná-lo
mais objetivo, mas será realmente um “realista” ou é um “realista
focado no passado”? Pondere sobre o seguinte: Tudo o que experimentamos
hoje é o resultado do que aconteceu ontem, na semana passada, no mês
passado, etc. No entanto, podemos igualmente considerar que o futuro é o
resultado do que fazemos hoje, mais os acontecimentos do passado. Se
você se focar naquilo que pretende vir a realizar ou a melhorar, isso
passa a orientar as suas ações no presente. Ou seja, caso o seu passado
não tenha sido aquilo que mais desejava, ao invés de se condicionar
apenas por aquilo que já aconteceu, pode optar por orientar a sua vida
por aquilo que pretende que lhe aconteça. Pondere passar a orientar-se
muito mais focado no futuro. O futuro que quer ver materializado.
Acredito que a sua motivação irá alavancar e com isso caminhar mais
esperançado no presente.
12. VOCÊ QUER MELHORIAS RÁPIDAS
Se você se encontra numa situação em que
pretende aprender algo que é necessário para a sua vida, ou precisa
mudar algum hábito, ou instituir uma nova rotina ou estilo de vida, e
quer ver resultados imediatos das suas ações, certamente vai deparar-se
com o fracasso. Se isto tem vindo a ser recorrente na sua vida, você
está agindo com base no desespero e ansiedade. Na verdade, é como se
necessitasse muito de algo, mas não está disposto a “pagar” a fatura com
esforço da sua parte.
13. VOCÊ NÃO PRATICA A GRATIDÃO
Pense em algo na sua vida em que você
se sente feliz por ter. Faça isso. Reconheça isso. Sinta-se afortunado e
grato por ter isso na sua vida. Por vezes simplesmente ignoramos as
coisas boas que temos na vida, damos isso como garantido. Acredito que
praticar a gratidão e transformá-la num hábito é promotor de felicidade e equilíbrio emocional.
14. VOCÊ ESPERA QUE OS OUTROS SEJAM A SUA SALVAÇÃO
Você acha que não sabe o suficiente
sobre X e precisa de alguém para ajudá-lo. Isso pode ser verdade, mas às
vezes é apenas uma desculpa para não colocar as suas mãos na massa.
Você, pouco a pouco vai deixando de responsabilizar-se pela sua melhoria
de vida. Raramente é devido às pessoas serem preguiçosas que isto
acontece. É principalmente porque se acham incompetentes, ou incapazes,
ou eventualmente não querem sair da sua zona de conforto e propor-se a novas experiências. Fonte: escolapsicologia.com
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