"Educar é uma das tarefas mais difíceis
da vida, e ao mesmo tempo das mais significativas"
Infelizmente, por
vezes a sabedoria popular e alguns equívocos sobre como criar
responsavelmente as crianças pode conduzir a comunicação ineficaz e
consequentemente a comportamentos desajustados e impróprios. Alguns pais
e educadores usam estratégias parentais autoritárias que não permitem
que a criança desenvolva independência intelectual ou senso de eficácia e
autonomia. Outros pais ou educadores, são excessivamente permissivos
não ensinando as crianças sobre os seus limites e autocontrole.
Os estudos mais recentes mostram que os dois extremos podem interferir
com a capacidade das crianças para regular as emoções e formar relacionamentos saudáveis quando forem adultos.
O
melhor tipo de educação é levar a criança em consideração, entendendo a
sua individualidade, sendo-se justo, flexível, respeitoso, ao invés de
ter como meta uma criança submissa. Ouvindo e respeitando os sentimentos
da criança, permitindo que ela escolha, e implementar limites justos e
claros sobre o comportamento inaceitável é o equilíbrio saudável que todos os educadores devem ponderar.
1 - Falar muito
Quando os pais falam demasiado,
repetindo-se num discurso moralista, as crianças tendem a desligar-se da
conversa. O cérebro humano é limitado na quantidade de informações ou
ideias originais que consegue reter na memória de curto prazo de uma só
vez. Isso equivale a cerca de trinta segundos de conversa ou uma ou duas
frases.
Exemplo ineficaz: “Eu não tenho a certeza acerca do que devemos fazer sobre o ballet e a ginástica neste semestre. Provavelmente você não pode praticar os dois porque a ginástica é às terças-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras às 16horas, e temos de resolver se você usa o cabelo apanhado, de modo a não gastar tanto tempo, a menos que você arrume todas as suas coisas do ballet na segunda-feira à noite, o que significa que tem de lavar o cabelo no domingo …”
Há tantas ideias diferentes nesta
mensagem que a criança vai ficar confusa e desligar-se da conversa. Além
disso, a mensagem tem um tom geral negativo e ansioso, que pode causar
dúvida na criança e levá-la a reagir com ansiedade. Não é necessário
dizer todas as informações de uma só vez. Em vez disso, deverá dividir
os assuntos e abordá-los separadamente, não antes de finalizar o
anterior. Em primeiro lugar deixe a criança expressar a sua preferência,
antes de referir todos os obstáculos.
Exemplo eficaz: “Se você quiser praticar ballet e ginástica neste semestre, você vai ter que ir direto de uma atividade para a outra algumas noites. Vamos sentar e descobrir se isso faz sentido para você e para mim.“
Neste exemplo, o pai ou educador limita a
conversa a duas frases, o que torna mais fácil para a criança absorver a
informação. Também está a ser claro sobre o objetivo geral (fazê-la
funcionar para ambos), e sugere os próximos passos a serem dados,
solicitando ações (sentar e discutir a questão). Finalmente, comunica a
vontade de colaborar e considerar as necessidades da criança, bem como a
sua própria.
2 - Múltiplos avisos em tom furioso
A maioria dos pais estão familiarizados
com a pressa de sair de casa pela manhã e ter de preparar tudo a tempo,
almoços, roupas de ginástica, instrumentos musicais, lição de casa
assinada, e assim por diante. Este é um enorme desafio para qualquer
pai, principalmente quando a criança não é colaborativa. Muitos pais
ficam fora de controle e tentam desesperadamente controlar a situação
incômoda, criticando ou gritando. O problema com a irritabilidade é que
você está realmente treinando as crianças a ignorá-lo, porque elas sabem
que você irá fazer isso múltiplas vezes.
Ao
fazer a mesma chamada de atenção, sem resultados, você está “dizendo”
indiretamente à criança que aquilo que você pede ou ordena não surte
efeito. As crianças muito jovens, podem precisar de mais assistência e
instrução, orientando-os na responsabilização de determinadas tarefas.
Exemplo Ineficaz: (para uma criança de 10 anos de idade): “Eu
estou a acordar-te uma hora mais cedo, porque você nunca está pronto a
horas. Você precisa vestir-se agora. Você tem os deveres de casa para
eu assinar?” Dez minutos mais tarde. “Eu disse para você ficar
pronto e ainda está na cama. Você vai fazer atrasar todo o mundo aqui em
casa. Vá escovar os dentes e arrumar as suas roupas.” Dez minutos mais
tarde. “Onde estão o seus deveres de casa? Eu pedi para você trazer para eu assinar? E já se vestiu. Nós vamos atrasar-nos.” E assim por diante.
Este
pai ou mãe está querendo tomar controle sobre a situação, e
indiretamente comunica à criança que ela não confia nela mesma para
gerir a situação sem necessitar de chamadas de atenção e interferência.
Esta comportamento parental chamado de “parentalidade helicóptero”, pode
dificultar a autoconfiança da criança, ficando excessivamente
dependente. O tom também negativo e intrusivo que usualmente é utilizado
nestas situações, é susceptível de criar ressentimento e resistência ou
agressão passiva na criança.
Exemplo eficaz: “Vamos sair para a escola daqui a 45 minutos. Se você não tem tudo que precisa, é melhor começar a pensar em como explicar para os seus professores.“
Estas instruções são breves e transmitem
uma expectativa clara, com uma consequência imediata por não cumprir
com as suas responsabilidades. As instruções parentais são livres de
julgamento, ansiedade e tentativas de controlar. O pai ou mãe permitem
que o filho aprenda com as consequências naturais do seu próprio
comportamento.
3 - Usar a culpa e vergonha para obter submissão
Devido à falta de maturidade das
crianças, elas não conseguem naturalmente levar em consideração as
necessidades e interesses dos adultos. Eles desenvolvem empatia
lentamente à medida que amadurecem, através da aprendizagem por
modelagem (modelam o seu comportamento através daquilo que veem os
adultos fazerem). É por isso que a expectativa de que crianças e jovens
consigam ver as coisas do ponto de vista do adulto pode não ser
razoável. O fracasso em não desenvolverem naturalmente esta capacidade
ou consciência não significa que as crianças ou jovens sejam maus ou
indiferentes. Eles estão apenas a comportar-se como uma criança, focados
em divertirem-se no momento, e testar os seus limites para aprender
sobre o que é aceitável, ou até onde os deixam ir.
A
maioria dos pais estão tão estressados com as múltiplas tarefas que
têm de realizar, que muitas vezes se esquecem de cuidar de si mesmos.
Isso pode levar ao ressentimento quando as crianças parecem não estar a
cooperar. É importante dedicar algum tempo para regular os seus próprios
sentimentos, no sentido de restabelecer o equilíbrio emocional antes de deixar que essas emoções negativas atrapalhem a sua comunicação com a criança.
Exemplo ineficaz: “Eu pedi várias vezes para você arrumar os seus brinquedos e ainda está tudo espalhado pelo chão da sala. Afinal, você não se importa? Você não consegue ver que eu estive horas a fio a trabalhar para vocês todos. Agora eu tenho que tropeçar nos seus brinquedos ou perder meu tempo a arrumá-los. O que há de errado com você que é tão egoísta?”
Podemos verificar que este pai está a
comunicar de forma negativa e com uma elevada carga emocional. Ainda que
este adulto pudesse ter toda a legitimidade para estar exausto e
frustrado, a sua comunicação é culpabilizante e desrespeitosa. Chamar a
criança de “egoísta”, ou implicando que há algo de errado com ela é
muito prejudicial e destrutivo. As crianças internalizam esses rótulos
negativos e começam a ver-se como: “não sou bom o suficiente.”
Humilhar ou envergonhar uma criança pode moldar negativamente o seu
comportamento e autoconceito. O que deve ser feito é qualificar o
comportamento inaceitável, mantendo a mensagem de amor incondicional.
Exemplo eficaz: “Eu vejo que os brinquedos ainda não foram arrumados e isso deixa-me chateado. É importante que a casa esteja arrumada para que todos possamos usufruir dela. Todos os brinquedos que estão fora do sítio serão colocados na garagem. Você pode tê-los de volta quando voltar a arrumá-los devidamente.”
Neste exemplo, o adulto comunica
claramente os seus próprios sentimentos e necessidades sem culpar ou
humilhar a criança. Explica ainda a aplicação de uma consequência
concreta, mas não excessivamente punitiva para o comportamento
expressado pela criança, proporcionando também uma oportunidade para que
possa tentar novamente fazer as coisas corretamente. Não foi atribuída
qualquer motivação negativa para a criança, nem rotulou a sua
personalidade de forma negativa.
4 - Não escutar
Todos nós gostamos de ensinar os nossos
filhos a respeitar as outras pessoas. A melhor maneira de fazer isso é
através da modelagem do comportamento, através do ensino pelo exemplo,
expressando comportamentos respeitosos e carinhosos nas nossas
interações. Isso ajuda a criança a aprender o valor do respeito e
empatia, e ensina-lhe as habilidades para uma comunicação efetiva.
Muitas vezes, a escuta atenta é a coisa mais difícil para os pais e
educadores realizarem, porque as crianças tagarelam bastante, ou porque
as nossas mentes estão ocupadas com inúmeros assuntos. Neste caso, não
há problema em dizer para a criança: “É difícil para mim ouvir-te neste momento, porque eu estou ocupado a cozinhar, mas falamos daqui a 15 minutos.”É
melhor reservar um tempo para a comunicação clara do que ouvir sem
entusiasmo ou ressentido. Lembre-se, porém, que é difícil para as
crianças esperar por longos períodos até serem ouvidas.
Exemplo ineficaz: Resposta parental para uma criança dizendo que marcou um golo no futebol. (sem fazer contato visual) “Oh, isso é bom, querido. Agora vai e brinca com a tua irmã (murmurando para si mesmo). Qual a temperatura ideal para cozinhar o frango?“
A escuta eficaz envolve todos os
comportamentos não verbais, tais como manter contato com os olhos,
expressão do rosto e tom de voz, e usar palavras para refletir e
comprovar o nosso entendimento. Este pai está ensinando o seu filho a
não incomodá-lo, e que as coisas que são importantes para a criança não
são importantes para ele. Isso pode fazer uma criança sentir-se sozinha e
não suficientemente boa.
Exemplo eficaz: Resposta parental para uma criança dizendo que marcou um golo no futebol. “Você marcou um golo. Fantástico! Vejo que estás muito orgulhoso da tua perícia. Eu quero saber tudo acerca de como jogaste hoje.”
Este pai está exibindo interesse e
entusiasmo, convidando a criança a elaborar e descrever o que aconteceu.
Ele está efetivamente sintonizado na expressão não verbal da criança,
refletindo os seus sentimentos, ajudando assim a criança a ganhar
consciência das suas próprias reações. Este tipo de resposta leva a
criança a sentir que ela é importante e digna de atenção e cuidado. Este
tipo de ressonância empática ajuda a criança a desenvolver mais consciência emocional.
Educar
é um trabalho difícil, e obviamente, às vezes, todos nós cometemos
erros. A comunicação eficaz com os nossos filhos, consome tempo e
energia. Precisamos tornar-nos conscientes dos nossos próprios
sentimentos e reações automáticas, e abrandar o suficiente para ser
capaz de escolher uma forma mais construtiva de comunicação. Mostrar as
consequências do comportamento não desejado ensina a criança a ter
limites, enquanto a escuta ativa e a promoção da autonomia ensina às
crianças o respeito. Certifique-se de cuidar de si mesmo o suficiente
para que tenha este tipo de sabedoria consciente com os seus seus
filhos. Isso pode significar reexaminar as suas prioridades e deixar
algumas coisas para fazer mais tarde. Vale bem a pena. A crianças que
têm pais respeitosos, envolvidos e consistentes, aprendem a regular as
suas próprias emoções de forma mais eficaz, sentindo-se melhor sobre si
mesmos, e são capazes de ter relacionamentos mais satisfatórios quando
adultos. Fonte: escolapsicologia.com
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