"Segundo a OMS, o índice de crianças entre 6 e 12 anos diagnosticadas com o distúrbio saltou de 4,5% para 8% na última década"
Nas próximas duas décadas, a depressão será
uma das doenças mais recorrentes no mundo. Ela ultrapassará o número de
indivíduos com câncer ou que sofrem de problemas cardíacos, conforme
aponta a Organização Mundial da Saúde em dados de 2014. Hoje, cerca de
400 milhões de pessoas lidam diariamente com um profundo e duradouro
sentimento de tristeza e desesperança — isto é, o equivalente a 7% da
população mundial, sendo que a maioria está concentrada em países em
desenvolvimento.
Todavia, essa epidemia silenciosa não se restringe aos
adultos. Segundo a OMS, o índice de crianças entre 6 e 12 anos
diagnosticadas com a doença saltou de 4,5% para 8% na última década.
Para a medicina, a depressão infantil é uma patologia relativamente
nova. Foi somente nos anos 1970 que ela passou a ser reconhecida na
literatura médica, sendo que antes disso os casos eram considerados
raríssimos ou inexistentes.
Mas como identificar um transtorno psíquico em uma criança
que ainda está aprendendo a nomear os sentimentos que a acometem? Muitas
vezes, crianças depressivas acreditam que o desconforto e a tristeza
são condições inevitáveis e naturais à sua existência. Dessa forma, não
entendem essa situação como algo fora da normalidade, capaz de ser
diagnosticado e resolvido. Isso faz com que os pequenos se escondam no
próprio silêncio, se retraindo dos laços afetivos e inibindo uma das
características mais importantes da infância: a surpresa da descoberta
ao brincar.
É necessário atenção redobrada dos pais e familiares em situações como
esta. Os sintomas da depressão infantil são comumente
confundidos com crises transitórias decorrentes da faixa etária. A
criança também pode apresentar dificuldade em expressar o que há de
errado com ela, o que pode interferir no diagnóstico.
Como se trata de um distúrbio mental, a depressão ainda é
incapaz de ser identificada através de testes laboratoriais. Portanto, a
avaliação médica se respalda no Manual de Estatística e Diagnóstico de
Transtornos Mentais. A partir da ocorrência de ao menos cinco sintomas
listados no manual em um espaço de tempo de duas semanas, é possível
diagnosticar a criança com a doença.
A depressão infantil pode ser diagnosticada em crianças
entre 4 e 9 anos. A partir dessa faixa etária, dependendo do diagnóstico
e do quadro do pequeno, pode ser necessária a prescrição de
medicamentos, além do acompanhamento psicológico. Os causadores da
doença variam. Eles podem ser uma predisposição genética; traumas, como
abuso sexual ou psicológico; convivência familiar, principalmente no que
diz respeito à relação com a mãe; problemas durante a gestação e alguns
traços próprios do temperamento. "Irritabilidade, alterações no padrão de sono e de
alimentação, baixa autoestima, crises de choro, oscilações de humor,
medo, agressividade, ansiedade” são alguns dos principais sintomas da
depressão infantil. Além disso, isso pode desencadear enurese e encoprese — emissões involuntárias de urina e fezes
durante o sono, respectivamente — bem como dificuldades na escola,
muitas queixas de dores físicas, e perda de interesse em atividades
antes consideradas prazerosas como indícios da doença.
As alterações de sono são os sintomas mais significativos
quando se trata da depressão infantil. Elas podem se manifestar como
insônia e pesadelos constantes, que por sua vez causam fadiga excessiva,
além de sonolência profunda e frequente. Isso também é bem comum no
quadro depressivo dos adultos. Para adormecer, precisamos nos permitir [relaxar],
assim nos desfazemos da energia diária. Então, quando não estamos bem
psicologicamente, a permissão de se desligar e adormecer se torna uma
tarefa árdua.
Como é recorrente em quase todos os distúrbios psíquicos, o
diálogo ainda é a maneira mais efetiva para entender e diagnosticar a
doença. No entanto, o que se observa — cada vez com mais frequência — é a
medicalização compulsiva, às vezes realizada sem o devido
acompanhamento psicoterapêutico, de pessoas com desordens psicológicas. Isso não se restringe apenas
aos adultos com depressão. A tendência é patologizar a criança. Em vez dos familiares e responsáveis observarem
o ambiente e perceberem que uma criança certamente desenvolverá algum
distúrbio caso passe o dia inteiro na frente da televisão, por exemplo,
eles já atestam que ela está doente porque não presta atenção nas
coisas.
Lógico que esses casos existem e precisam ser tratados, mas
e se trabalhássemos em combater as causas antes de buscarmos avidamente
por um diagnóstico? Muitos familiares lembram de dar o remédio para os
filhos, mas se esquecem do quão fundamental é a terapia familiar, por
exemplo, fato que ressalta a importância do diálogo
e da desmedicalização da infância para a eficácia do tratamento da
doença. Precisamos saber o que eles sentem. Mesmo que eles não saibam
nomear com tanta destreza como nós, eles têm ciência do que nutrem
dentro de si.
Caso a depressão infantil não seja diagnosticada e tratada, a
tendência é que a doença permaneça à espreita, acompanhando o paciente
durante a adolescência. Neste caso, o quadro pode assumir contornos
diversos como “isolamento, dificuldades de interação social, transtornos
alimentares, abuso de drogas e ideações suicidas". Fonte: claudia.abril.com.br
Veja no vídeo abaixo uma entrevista médica sobre o aumento da depressão em todo o mundo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário