"Manter o peso
após uma dieta é um desafio, já que fatores como alterações hormonais, perda de
massa muscular e avanço da idade desaceleram o metabolismo e diminuem a
capacidade de o corpo gastar calorias"
Talvez mais difícil do que emagrecer seja sustentar o peso alcançado.
Ter força de vontade para manter hábitos saudáveis a longo prazo é mais
desafiador do que segui-los por pouco tempo, especialmente se uma pessoa já
conseguiu emagrecer tanto quanto gostaria. Além disso, outros fatores, como a
alteração hormonal, fazem com que o corpo lute contra o novo peso e favoreça o
efeito sanfona. E o que é pior: segundo especialistas ouvidos pelo site de
VEJA, quanto mais episódios de perda e ganho de peso, mais difícil é emagrecer
novamente.
Algumas descobertas científicas vêm mostrando os motivos pelos quais é
tão difícil manter o peso. Uma pesquisa australiana divulgada em 2011,
por exemplo, provou que, logo após perderem peso, as pessoas apresentam
alterações hormonais que aumentam o apetite, desaceleram o metabolismo e
fazem com que o corpo elimine menos gordura. Mas a principal descoberta
do estudo foi a de que tais alterações persistem pelo menos um ano após
o fim da dieta, fazendo com que muitos indivíduos voltem a engordar
mesmo se continuam controlando a alimentação.
Prejuízos – Uma pequena oscilação do peso é
considerada natural: engordar 3 a 4 quilos no ano, por exemplo, não
configura o efeito sanfona, como explica a endocrinologista Claudia
Cozer, coordenadora do núcleo de obesidade do Hospital Sírio-Libanês, em
São Paulo. Muito mais do que isso, porém, pode fazer com que emagrecer
fique cada vez mais difícil.
Acontece que quando uma pessoa engorda, acumula gordura. Por
outro lado, se emagrece, perde tanto gordura quanto massa muscular, que
é um fator importante para acelerar o metabolismo. Segundo Claudia
Cozer, se esse processo de perder e ganhar peso acontece repetidas
vezes, a tendência é a de que o metabolismo desse indivíduo desacelere
cada vez mais. “Além disso, com o avanço da idade, que também prejudica o
metabolismo, o efeito sanfona se torna cada vez mais prejudicial à
manutenção do peso”, explica Claudia.
O fator genético também exerce um papel importante nesse
sentido, já que o DNA de algumas pessoas favorece o ganho de peso.
“Diante de todos esses fatores genéticos, ambientais, hormonais, o que
menos influencia na manutenção do peso é a força de vontade do
indivíduo. Muitas vezes ele não engorda porque quer, mas porque o seu
corpo trabalha para que isso aconteça”, diz Rosana Radominski, do
departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM). “Cada um tem um ponto de equilíbrio em relação ao
peso corporal, e é o organismo de cada pessoa que determina isso.”
Melhores hábitos – Diante de tantos
obstáculos, está claro que, para manter o peso, é preciso manter hábitos
saudáveis, como alimentação equilibrada e rotina de exercícios físicos,
permanentemente, embora com menos rigidez do que no processo de
emagrecimento. “Quando a pessoa alcançar o peso ideal, não pode voltar
aos hábitos que tinha antes de emagrecer. Ela não precisa fazer uma
dieta restritiva, por exemplo, mas algum controle tem que fazer. Algumas
pessoas não comem doce durante a semana, outras optam por comer um
jantar mais leve”, diz Claudia Cozer.
Há vinte anos, o grupo de médicos americanos do National
Weight Control Group (NWCR) se dedica a estudar a manutenção do peso.
Nessas duas décadas, os pesquisadores publicaram uma série de pesquisas
científicas e acompanharam milhares de pessoas obesas que tentaram
perder peso. Diante de todos os dados, eles descobriram o que a maioria
pessoas que conseguem manter o peso após emagrecer tem em comum: elas
continuam controlando a alimentação, praticam atividade física, tomam
café da manhã todos os dias, se pesam com frequência e assistem poucas
horas de televisão.
“A fase mais difícil da dieta é a manutenção, porque existe
uma tendência de o corpo recuperar o peso e de o organismo economizar
calorias após emagrecer”, diz Rosana Radomski. “E o que se observa é
que é preciso comer menos e fazer mais atividade física para manter o
peso do que antes de emagrecer. A mudança de hábito é difícil, mas o
paciente deve reciclar os seus aos poucos para atingir seu objetivo.”
1. Esqueça os hábitos do passado
Manter o peso é o resultado de uma conta matemática simples: a
quantidade de calorias ingeridas deve ser a mesma da quantidade gasta.
No entanto, algumas alterações no metabolismo que ocorrem com o
emagrecimento fazem com que uma pessoa passe a gastar menos calorias ao
ficar mais magra. Por isso, embora um indivíduo que alcançou o peso
ideal não precise mais seguir uma dieta tão restritiva, ele deverá
sempre ter algum controle sobre os seus hábitos. “É preciso comer menos e
fazer mais atividade física para manter o peso do que antes de
emagrecer”, diz a endocrinologista Rosana Radomski, do departamento de
obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM).
2. Não faça dietas da moda
Dietas da moda, como as que proíbem a ingestão de determinados grupos
alimentares, promovem uma perda de peso rápida, mas são difíceis de
serem seguidas a longo prazo. “O paciente não consegue manter esse tipo
de alimentação, abandona a dieta completamente e ganha todo o peso que
havia perdido”, explica a endocrinologista Claudia Cozer, coordenadora
do núcleo de obesidade do Hospital Sírio-Libanês. Além disso, segundo a
médica, quanto mais rápido é o emagrecimento, maior a perda de massa
muscular. Como a massa muscular é fundamental para acelerar o
metabolismo, esse tipo de dieta prejudica a capacidade de o corpo gastar
calorias e dificulta a manutenção do peso.
3. Continue na academia
Após 20 anos acompanhando pacientes obesos, o grupo de médicos
americanos do National Weight Control Group descobriu que 90% das
pessoas que conseguem perder e manter o peso continuam praticando ao
menos uma hora de atividade física por dia, mesmo depois de atingirem
seus objetivos. “Mas não adianta exercitar-se se continua se alimentando
mal ou a ser sedentário no resto do dia. Com o tempo, é preciso que o
paciente adote hábitos como preferir a escada ao elevador ou a andar
mais a pé”, diz Rosana Radominski. Os exercícios, além de aumentarem no
gasto calórico, ajudam a manter a massa muscular e, portanto, a acelerar
o metabolismo.
Manter o peso exige bom senso: apesar de a fase de emagrecimento ter
acabado, é preciso sempre estar atento aos hábitos. “O trabalho de
manutenção precisa acontecer a vida inteira. O paciente que perdeu peso
deve consumir as calorias necessárias e se dar ao luxo de sair da linha
apenas algumas vezes, e não exagerar todos os finais de semana. Ele pode
deixar para comer sua sobremesa preferida no domingo, e não em dia de
semana, por exemplo”, diz a endocrinologista Claudia Cozer. “É como se a
pessoa tivesse um dinheiro para gastar da forma como quiser, mas
sabendo que não poderá comprar nada em uma loja que seja muito cara.”
Cada pessoa possui uma carga genética e vive em um ambiente que pode
favorecer ou dificultar o emagrecimento. Muitas vezes, o efeito sanfona
acontece porque uma pessoa quer chegar a um peso que não condiz com
esses fatores e tem muito mais dificuldades em mantê-lo. “Não adianta
perder 30 quilos e recuperar e perder peso várias vezes. Nesse caso, é
melhor emagrecer 10 quilos, por exemplo, e conseguir manter o novo
peso”, diz Rosana Radomski.
Ainda segundo o National Weight Control Group, três em cada cinco
pessoas que conseguem manter o peso assistem menos do que 10 horas de
televisão por semana. De fato, não faltam estudos que comprovam a
relação entre o hábito e o risco de engordar. Além disso, pesquisas já
mostraram que, muitas vezes, o prejuízo de um dia sedentário não é
compensado por uma aula na academia. No ano passado, pesquisadores
holandeses mostraram
que, mesmo praticando exercícios menos intensos, pessoas mais ativas ao
longo do dia – que trocam elevador por escada ou que se levantam da
cadeira com maior frequência, por exemplo – gastam mais calorias e têm
níveis mais saudáveis de gordura e insulina no sangue.
Segundo a endocrinologista Claudia Cozer, o stress é um reconhecido
fator de risco para o ganho de peso e pode ser um grande vilão de
pessoas que conseguiram emagrecer. O stress faz com que o corpo produza
hormônios que, em excesso, aumentam o apetite e diminuem o controle
sobre o que se come. Uma pesquisa publicada em julho de 2014 demonstrou
que dias estressantes fazem com que o corpo gaste menos calorias do que o
normal. E, como as pessoas tendem a consumir alimentos mais calóricos e
gordurosos quando estão sob stress, o impacto na balança é ainda maior.
8. Fique de olho na balança
Oscilar o peso, desde que sem exageros, é algo natural do ser humano.
“Engordar 3 quilos durante o ano ou em uma viagem, por exemplo, é
considerado normal”, diz a endocrinologista Claudia Cozer. Se passar
muito disso, pode-se dizer que a pessoa entrou no efeito sanfona. E
quanto mais episódios de oscilação de peso, mais difícil será voltar ao
peso conquistado anteriormente. “Além disso, com a idade, o metabolismo
fica cada vez mais lento e o corpo tem maior dificuldade em gastar
calorias”, afirma Claudia. Talvez isso explique uma das conclusões dos
pesquisadores do National Weight Control Group, que mostrou que três
quartos das pessoas que conseguem emagrecer e manter o peso se pesam
pelo menos uma vez por semana. Fonte: veja.abril.com.br
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