"Possuir um nódulo é sinônimo de temor para a maioria das pessoas. Felizmente, menos de 10% dos nódulos tireoidianos são malignos"
Possuir um nódulo, seja na gordura subcutânea, fígado, hipófise, tireoide ou qualquer outra localização, impõe um óbvio temor.
Nem importa se o diagnóstico foi sugerido em uma palpação ou assegurado
por um exame de imagem. Vem-nos à mente histórias de toda a sorte e
ninguém dorme em paz até que as dúvidas sobre o pequeno caroço suspeito
sejam elucidadas.
Portadores de nódulos de tireoide não fogem à regra e diariamente endocrinologistas
recebem os preocupados pacientes, encaminhados por outras
especialidades, no mais das vezes, com seus ultrassons a tiracolo e
todas as incertezas do mundo.
Risco aumentado
Indivíduos com doença autoimune da tireoide, assim como aqueles que habitam regiões com carência de iodo, são mais propensos
a desenvolverem tais nódulos, contudo, na maior parte das vezes não
sabemos quais as causas. Temos certeza de sua alta prevalência e é
sabido que aos 60 anos de idade perto da metade das pessoas possuem ao
menos uma nodulação tireoidiana.
Alguns chavões marcaram a evolução dos estudos neste campo,
lembro-me bem que, por muitos anos, se em um concurso médico ocorresse
uma questão apresentando paciente do sexo masculino com nódulo único de
tireoide, a única resposta possível para o acerto era: cirurgia de
tireoide.
Ainda é verdade que ser do sexo masculino é um critério
sugestivo para uma maior suspeita, porém, existe uma dezena de outros
parâmetros que carregam mais inquietude quando estão presentes, tais
como nódulos muito firmes, fixos, com pouca mobilidade ou rouquidão
associada.
Outro bordão utilizado com pacientes por alguns médicos
quando existe a confirmação do câncer tireoidiano (principalmente em sua
variante mais comum, o CA papilífero), na tentativa de passar
tranquilidade, é que o tumor é tão simples que se ele mesmo tivesse que
escolher uma patologia maligna, escolheria a tireoide como reduto. De
fato, o índice de cura após cirurgia e tratamento com radioiodo é muito
alto, mas, a desobediência aos protocolos e evoluções erráticas não raro
frustram o resultado. Além do quê, não nos esqueçamos do necessário: o
“diagnóstico”
Separar o joio do trigo
Menos de 10% dos nódulos tireoidianos são malignos,
contudo, separar o joio do trigo nem sempre é simples. Parâmetros
clínicos podem sugerir maior empenho na investigação, mas são
ultrassonográficos os mais utilizados e importantes para o balizamento
de riscos de malignidade. A partir dos achados deste exame interpretamos
o contexto para encaminhar ou não o paciente para a biópsia de um ou
mais nódulos.
Exames dignósticos
A biópsia por punção aspirativa por agulha fina (Paaf)
guiada por ultrassonografia é o exame padrão utilizado para concluir o
diagnóstico das situações suspeitas e em até 80% dos casos garante a
benignidade, ainda que o seguimento a médio e longo prazo desminta de 2%
a 3 % destes resultados.
Perto de 5% das Paaf asseguram a malignidade, enquanto em
até 20% o resultado é indeterminado. É nesse percentual aproximado de
20% de incerteza diagnóstica com a Paaf que os endocrinologistas e
cirurgiões de cabeça e pescoço se debruçam na tentativa de evitar
cirurgias desnecessárias.
O seguimento ultrassonográfico é imperativo
naqueles sem indicação de biópsia e também para aqueles puncionados e
sem indicação cirúrgica em um primeiro momento. Este exame pode
surpreender um nódulo modificando suas características, demonstrando
rápido crescimento, perdendo a nitidez em seus limites ou apresentando
excesso de fluxo sanguíneo para a sua região central, o que trará
necessidade de Paaf.
Um caminho muito promissor para dirimir tais dúvidas é a
pesquisa de marcadores tumorais nesses materiais de biópsia, porém,
ainda aguardamos testes de maior precisão.
Se você é portador de nódulo tireoidiano não perca o humor,
pois a probabilidade de malignidade é menor que 10%. Por outro lado, a
perspectiva de que você venha a operar desnecessariamente pode chegar a
20% ou mais.
O melhor caminho é submeter-se a uma avaliação especializada, fugindo assim de aprendizados estereotipados, protegendo não a seu nódulo, mas, a sua vida. Fonte: veja.abril.com.br
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