"Especialistas revelam os sinais de que a criança não está desenvolvendo a fala como deveria - e aponta possíveis problemas por trás disso"
Seu filho pequeno ainda não consegue se expressar direito? É bom ficar atento. O bebê
começa a se comunicar com os pais desde os primeiros dias de vida.
Embora não fale, ele chora, dispara olhares ou gritinhos, sorri… Até
que, por volta de 1 ano de idade, as tão esperadas primeiras palavras
aparecem.
Que pai não se enche de alegria ao ouvir aquele “mamá” ou
“papá”?! É partir das primeiras palavras que o desenvolvimento da fala
ganha amplitude. Mais emissões vão surgindo, suas combinações ficam cada
vez mais frequentes e novos sons continuam aparecendo até que, lá pelos
2 anos, as pequenas frases são produzidas.
Mas e quando isso não ocorre? Será que realmente a fala irá
surgir com o tempo? Será que a criança, ao frequentar a pré-escola, vai
mesmo vencer essa barreira? Para uma parte dos pequenos, sim: variações ocorrem
naturalmente. Mas é preciso ficar atento, porque não atingir os marcos
esperados do desenvolvimento da fala pode indicar alguma encrenca.
Dentre as possíveis causas desse atraso no desenvolvimento da fala, estão a dificuldade de audição
ou falta de estímulos adequados – e aqui estão incluídas as crianças
que ficam muito tempo ligadas nos eletrônicos. O quadro também está
associado a limitações cognitivas e autismo.
Ainda, pode ser um indicador de transtorno no desenvolvimento da
linguagem, conhecido por distúrbio específico de linguagem (DEL).
E pode ser que a criança não esteja conseguindo planejar
e/ou programar adequadamente os movimentos para a produção da fala.
Vamos dar um passo atrás: uma criança precisa de coordenação motora para
sincronizar a movimentação de diversas estruturas (boca, língua, pregas
vocais…) e, assim, emitir uma frase. É um processo altamente complexo e
refinado. Acontece que, às vezes, isso é particularmente difícil ao pequeno: trata-se de uma condição chamada de apraxia de fala. Mas o que é isso?
Segundo a Associação Americana de Fonoaudiologia (ASHA),
a apraxia de fala na infância é um distúrbio neurológico motor que
afeta a produção dos sons da fala, resultante de um déficit na
capacidade em planejar e/ou programar a sequência de movimentos
articulatórios, o que resulta em erros de produção de fala e alteração
de prosódia. Por motivos ainda desconhecidos, sabemos que regiões do
cérebro não enviam adequadamente os comandos para os músculos
movimentarem os articuladores, como mandíbula, lábios, língua, véu
palatino (céu da boca) etc.
O diagnóstico é clínico e deve ser realizado por um
fonoaudiólogo com conhecimento sobre o assunto. Até pouco tempo atrás,
ele era incomum aqui no Brasil, mas, graças ao trabalho da Associação Brasileira de Apraxia de Fala de conscientizar e formar profissionais para atuarem nesta área, essa realidade felizmente vem mudando.
A dificuldade no planejamento motor presente nos quadros de
apraxia pode se manifestar especificamente na produção da fala, ou
afetar mais áreas do desenvolvimento, como coordenação motora fina e até
mesmo as habilidades mais amplas, como andar. Sim, várias dessas
crianças são descritas como desajeitadas e estabanadas.
Em relação à fala, a criança com apraxia tem a intenção de
se comunicar, mas os pais percebem que o ato em si é difícil para ela.
São crianças que compreendem bem, mas que, por exemplo, comunicam-se
apenas com as vogais (não conseguem produzir as consoantes: por exemplo:
“aião” para avião). Ou falam sílabas isoladas (podem, por exemplo,
emitir a sílaba “pa” na palavra “papai”, porém essa sílaba não é
utilizada em outras palavras).
Outra característica observada é a presença de alteração
prosódica: os pequenos parecem ter um sotaque ou uma fala truncada,
muito acelerada ou lentificada, com pausas inadequadas. Tudo isso faz
com que os próprios pais sofram para compreendê-las.
Crianças com apraxia também podem ter dificuldades
sensoriais. Elas às vezes se incomodam com etiquetas das roupas, ou em
lavar o cabelo, segurar massinhas, pisar na areia e por aí vai. Algumas
choram para escovar os dentes e se recusam a comer alimentos com certas
consistências ou texturas. Nesses casos, o acompanhamento com uma
terapeuta ocupacional especializada em integração sensorial é
importante.
A apraxia pode estar presente em outros quadros. Entre eles: transtorno do espectro autista,síndrome de Down, síndrome do X-Frágil…
Existem diferentes graus de severidade, desde casos mais
leves (com plena reabilitação), até os mais severos, onde as
dificuldades poderão persistir na idade adulta. Como em outras
condições, o diagnóstico precoce e o tratamento planejado e direcionado
certamente ajuda a criança a progredir nas suas habilidades de fala e
comunicação. O apoio da família e o da escola é essencial.
Na dúvida, a recomendação é sempre procurar um fonoaudiólogo
com experiência na área de linguagem infantil para uma avaliação. O ato
de “o esperar pela fala” pode significar uma perda de tempo precioso de
intervenção. Fontes: apraxiabrasil.org / atrasonafala.com.br / saude.abril.com.br
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