"A obesidade tornou-se uma epidemia global, segundo a Organização Mundial
da Saúde ligada à Organização das Nações Unidas"
O problema vem
atingindo um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo e entre as
principais causas desse crescimento estão o modo de vida sedentário e a
má alimentação.
A taxa de mortalidade entre homens obesos de 25 a
40 anos é 12 vezes maior quando comparada à taxa de mortalidade entre
indivíduos de peso normal. O excesso de peso e de gordura no corpo
desencadeia e piora problemas de saúde que poderiam ser evitados. Em
alguns casos, a boa notícia é que a perda de peso leva à cura, como no
caso da asma, mas em outros, como o infarto, não há solução. Se você
ainda tem dúvidas dos problemas que a obesidade pode trazer, listamos as
doenças que, comprovadas por pesquisas científicas, são geradas pelo
excesso de peso.
Doenças do coração
As primeiras doenças que costumam afetar o obeso são as do
coração. Segundo José Carlos Pareja, que também é diretor do Centro de
Cirurgia da Obesidade de Campinas (CCOC), o coração de uma pessoa acima
do peso tem que “trabalhar” mais. “Se seu peso ideal é 70kg, seu coração
foi feito para trabalhar num corpo de 70 kg. Se você pesa 100, ele tem
que trabalhar para um corpo de 70 e mais um de 30 e fica
sobrecarregado”. Entre as várias doenças do coração está a hipertrofia
ventricular, que é o aumento do músculo do coração por excesso de
trabalho. A hipertrofia pode evoluir para a insuficiência e gerar
arritmia e também aumenta o risco de um acidente vascular cerebral e
morte súbita.
A hipertensão é outro problema comum entre os
obesos. Um estudo americano mostrou que 75% dos hipertensos são obesos. O
motivo é a alta produção de insulina – por isso muitas vezes o obeso
não é diabético, mas tem problema com a pressão alta. A insulina
funciona na manutenção do tamanho dos vasos sanguíneos e também favorece
a absorção de água e sódio. Uma alimentação não-balanceada somada à
compressão dos vasos sanguíneos resulta na pressão alta, que aumenta os
problemas no coração. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão, o
problema é a causa de 40% das mortes por acidente vascular cerebral.
Trombose
Como o coração do obeso funciona com dificuldade, há um mau
bombeamento de sangue para o corpo inteiro, gerando doenças ligadas ao
sistema vascular. É comum que obesos tenham varizes nas pernas e
enfrentem um risco maior de ter trombose – acúmulo de coágulos de sangue
dentro de vasos sanguíneos. Uma pesquisa publicada no American Journal
of Medicine, em 2005, mostrou que os pacientes obesos tinham 2,5 vezes
mais chance de ter trombose do que os indivíduos não obesos. E esse
risco foi maior entre as mulheres obesas do que entre os homens obesos
(2,75 contra 2,02, respectivamente) e entre os pacientes obesos com
menos de 40 anos, em relação aos mais velhos.
Apneia
Segundo o endocrinologista Marcio Mancini,
presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da
Síndrome Metabólica (Abeso), a parada respiratória involuntária durante o
sono, muito comum entre os obesos, é pouco conhecida e muito grave. O
problema atinge mais da metade dos obesos mórbidos. A apnéia acontece
mais nos obesos porque eles têm excesso de gordura na região do pescoço e
a faringe fica mais estreita, facilitando o fechamento involuntário. Na
posição horizontal do corpo durante o sono, a expansão do pulmão para a
respiração também é mais difícil. Mancini explica que quem sofre de
apneia não tem um sono normal e enfrenta problemas durante o dia, como
cansaço, dificuldade de concentração e até mesmo pressão alta.
Esteatose hepática
É o acumulo de gordura no fígado, órgão responsável pelo
metabolismo dos lipídeos, que viram glicose e vão para o sangue. Quando
há um excesso de gordura ingerida, o fígado não consegue metabolizar
tudo e parte se acumula no órgão, que pode desenvolver cirrose ou
fibrose. A cirrose é normalmente associada à ingestão de álcool, mas
neste caso, pode aparecer em pessoas que não bebem. Segundo o
endocrinologista Marcio Mancini, um estudo do Hospital das Clínicas de
São Paulo mostrou que 67% dos obesos que fizeram a operação de redução
de estômago apresentavam excesso de gordura no fígado e 5,5% deles
tinham sinais de cirrose. Após a cirurgia bariátrica, a esteatose
desapareceu em 84% e a cirrose, em 75% dos pacientes. Mancini alerta
para a dificuldade de diagnóstico. “Metade dos pacientes que fazem
ultrassom não consegue saber que está com essa doença, porque é difícil
de enxergar. Mas quase todo obeso em fase de obesidade mórbida tem altos
níveis de gordura do fígado”.
Depressão
O problema psiquiátrico afeta uma grande quantidade de obesos.
Segundo o médico José Carlos Pareja, estatísticas mostram que, na
população, 30% das pessoas terão algum tipo de depressão ao longo da
vida. Já entre os obesos, esse número sobre para 89%. “São pessoas que
sofrem muito com a autoestima, principalmente na adolescência, uma fase
em que é importante a socialização. A depressão é uma doença tão
importante quanto a pressão alta”.
Asma
A asma está relacionada à presença de
uma substância produzida no tecido adiposo chamada eotaxina, capaz de
provocar o fechamento dos brônquios. Estudos já mostraram que, quanto
maior o índice de massa corporal, maior a quantidade de eotaxina
produzida pelo corpo. Por isso, os obesos sofrem mais de asma. “Muitos
pacientes meus que tinham graves crises de asma deixaram de ter
problemas depois de perder peso. Para muitos obesos que têm asma, a cura
é o emagrecimento”, diz Marcio Mancini. Ele também afirma que as
pesquisas americanas sugerem um paralelo entre o crescimento do número
de obesos e de asmáticos nos Estados Unidos, que têm o maior percentual
de obesos no mundo. Entre 1960 e 1994, o número de americanos obesos
aumentou de 12,8 para 22,5%. O número de asmáticos entre 1980 e 1994
subiu de 3,1 para 5,4%.
Infertilidade e gravidez de risco
A
produção de hormônio anormal das mulheres obesas desencadeia uma série
de problemas relacionados à gravidez. A alta taxa de gordura no corpo
provoca maior produção de testosterona – hormônio masculino –, a
menstruação fica irregular e a mulher tem mais dificuldade para
engravidar. A gravidez da mulher obesa costuma ser de alto risco. Ela
pode abortar devido à pressão alta e o bebê também pode ser afetado. Um
estudo lançado na última semana na revista da Associação Americana de
Medicina mostrou que as obesas têm o dobro de chance de ter filhos com
problemas congênitos, como má formação da medula espinhal (que pode
levar a um aborto ou a falta de movimento dos membros inferiores) e do
coração. O diabetes do tipo 2, que afeta muitas mulheres obesas, também é
um fator de risco para gerar problemas no sistema nervoso central e no
coração do bebê. Os resultados de ultrassonografia também são mais
imprecisos em mulheres obesas, pois a camada de gordura abdominal
atrapalha o exame.
Neoplasia
Neoplasia
Esse tipo de crescimento desordenado de células, que pode ser
benigno ou virar um câncer, é facilitado pelo aumento de peso. Obesos
têm deficiência de um tipo de linfócito chamamos "natural killer"
(assassino natural) que combate células mutantes. “Muitos casos de
câncer são combatidos pelo nosso corpo porque essas células atuam em
nossa defesa. Mas, no caso do obeso, as células não conseguem combater
sozinhas e o tumor pode se desenvolver”, afirma Marcio Mancini. De
acordo com o médico José Carlos Pareja, o aumento de massa corpórea é um
fator de risco para mulheres desenvolverem câncer de mama e de
endométrio. Ele alerta para a dificuldade de diagnóstico e de tratamento
em pacientes obesos devido à camada de gordura muito espessa. “O
tratamento do câncer em um obeso não é mais difícil, mas como o
diagnóstico pode ser tardio, a cura pode ficar mais difícil”.
Estudos científicos já haviam provado a ligação entre alguns tipos de câncer e a obesidade. No ano passado, uma dissertação de mestrado da Faculdade de Medicina da USP mostrou que pacientes obesos que reduziram o tamanho do estômago por cirurgia tiveram a produção de linfócito natural killer aumentada após seis meses.
Estudos científicos já haviam provado a ligação entre alguns tipos de câncer e a obesidade. No ano passado, uma dissertação de mestrado da Faculdade de Medicina da USP mostrou que pacientes obesos que reduziram o tamanho do estômago por cirurgia tiveram a produção de linfócito natural killer aumentada após seis meses.
Colesterol alto
Os obesos têm baixa taxa
de HDL, o colesterol bom que diminui o risco de ataque cardíaco e ajuda a
remover o colesterol ruim das paredes das artérias. O acúmulo de
gordura dentro dos vasos pode causa entupimento e até um infarto. Um
estudo recente da Universidade Estadual de Campinas apontou que o índice
de colesterol alto, um problema mais comum em adultos, está atingindo
também os mais novos. Dos quase 2 mil jovens e crianças entre 2 e 19
anos que foram atendidos no Hospital das Clínicas da Unicamp, 44%
apresentaram alteração nos níveis de colesterol, e a principal causa foi
o excesso de peso.
Diabetes do tipo 2
No
Brasil, existem de 7 a 8 milhões de pessoas com diabetes do tipo 2.
Isso representa 5% da população, porcentagem que é a média em outros
lugares do mundo. Porém, segundo o médico José Carlos Pareja, mais de
70% dessas pessoas com diabetes têm algum grau de peso acima do normal. O
diabetes tem fatores genéticos, mas quanto maior o peso de uma pessoa,
maior a chance de ele aparecer. Isso acontece porque o aumento do peso e
da gordura no corpo ocasiona uma resistência à ação da insulina, o
hormônio que auxilia o organismo a regular os níveis de glicose. Fonte: revistaepoca.globo.com
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