"A fonte da juventude, capaz de curar todos os
males e fornecer o vigor físico da melhor época da vida, nunca passou de
um mito, é claro, mas sua presença em diferentes culturas e épocas
históricas representa um dos maiores desejos da humanidade: uma panaceia
com o poder de garantir a vida eterna"
O historiador grego Heródoto a descreveu, o homem medieval contou histórias a
seu respeito e o explorador espanhol Ponce de León a teria procurado na
Flórida no século 15. O remédio único está bem
distante da realidade, mas os efeitos práticos dessa busca são
palpáveis: estamos prolongando cada vez mais nossa presença na Terra.
No começo do século 19, alguém que passasse dos 35
anos já podia ser considerado um sortudo. Em apenas 150 anos, a
expectativa de vida no mundo quase dobrou, marcando 62 anos em 1950. De
lá para cá, o número cresce aceleradamente. Agora um novo conjunto de
descobertas e técnicas que começam a despontar em empresas, startups e
universidades — como remédios que tratam apenas as células doentes,
edição genética, robótica e inteligência artificial — nos levará a um
capítulo inédito na história: até o final deste século, segundo dados da
ONU divulgados recentemente, o mundo terá mais de 21 milhões de pessoas
com 100 anos ou mais, e o Brasil ampliará sua população de centenários
em mais de 110 vezes, para mais de 1,5 milhão. Com as novas tecnologias,
os bebês que nascem agora viverão cada vez mais e chegarão à velhice
cada vez mais saudáveis.
O desenvolvimento de novos medicamentos terá um
papel importante na criação dessa geração centenária. “Com o volume de
novas tecnologias que estão por vir, seremos mais efetivos no tratamento
de doenças e na redução de complicações médicas”, afirma Felipe Marques
Gonçalves, médico e executivo para estratégia de medicamentos
biológicos na farmacêutica americana AbbVie. As razões para o otimismo
estão em evidências históricas. Em 1900, nos Estados Unidos, casos
comuns de diarreia correspondiam à terceira causa de morte humana. É
algo impensável nos dias atuais, com antibióticos disponíveis em
qualquer farmácia. Estudos internacionais mostram que, de 1986 a 2000,
40% do aumento da expectativa de vida ocorreu em razão de remédios
inovadores, que diminuíram em 33% a taxa de mortalidade por doenças
cardiovasculares e foram responsáveis por 83% do aumento do tempo de
vida dos pacientes com câncer.
Os novos medicamentos representarão uma revolução na maneira como as
doenças são tratadas. Os comprimidos e as soluções injetáveis atuais têm
impacto em todo o organismo e provocam efeitos colaterais, como
náuseas, dor de cabeça e alergias. A tática possível até aqui foi, para
tratar uma área doente, atacar todo o corpo. No entanto, a indústria
farmacêutica começa a colher frutos no desenvolvimento da terapia de
precisão, por meio da qual apenas a área doente é tratada, reduzindo
efeitos indesejáveis e aumentando a eficácia. Isso abre uma janela
especial para os tratamentos contra o câncer, oferecendo uma nova opção
aos atuais protocolos de tratamento, como a quimioterapia ou a
radioterapia, que são altamente invasivos e têm muitos efeitos
colaterais.
Uma das apostas da medicina é um tratamento que faz o
próprio corpo atacar os tumores, uma área chamada de imuno-oncologia. O
corpo humano tem moléculas que acionam o sistema de defesa quando
necessário, mas as células do câncer, espertamente, conseguem desativar
esse sistema de proteção. A nova técnica reativa as moléculas
vigilantes, que dão um sinal verde para que as células de defesa ataquem
as células cancerígenas. O mecanismo tem efeitos colaterais mais
brandos, e com ele é possível tratar pacientes em que o câncer está em
estágio avançado e se espalhou pelo corpo.
Os primeiros estudos sobre esse tratamento são de
1790, quando um grupo de cientistas começou a ativar o sistema
imunológico contra tumores, mas só em 1980 uma medicação foi aprovada.
Nos últimos cinco anos, as pesquisas levaram ao lançamento de novos
remédios. Em 2016, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica elegeu a
imuno-oncologia como o maior avanço do ano contra o câncer. Estudos
mostram que, no caso de um câncer de pele avançado, em que 75% dos
pacientes morrem um ano após o diagnóstico, o novo método de tratamento
proporciona uma sobrevida ao paciente de quatro anos. “O outro lado da
moeda é que, quanto mais a pessoa vive, mais câncer ela pode ter”, diz
Roger Miyake, diretor médico da farmacêutica americana Bristol-Myers
Squibb no Brasil. A ideia é que esse tratamento combata a maior
quantidade de tumores possível, transformando o câncer em uma doença
crônica.
Há outras iniciativas promissoras no combate ao câncer. A maioria
delas vem da nanotecnologia, uma área vasta e de fronteira que permite
diferentes abordagens no tratamento. Uma dessas possibilidades é o uso
de pequenas moléculas desenvolvidas em laboratório como meio de
transporte do medicamento até a célula doente, reduzindo a dose
necessária do fármaco e o tempo necessário para que o remédio tenha
efeito. Tratamentos desse tipo já são utilizados na terapia para os
cânceres de mama, pulmão e pâncreas. Essa área, chamada de nanomedicina,
tem papel central no Cancer Moonshot, uma iniciativa lançada pelo
ex-presidente americano Barack Obama em 2016 para acelerar a descoberta
de novos tratamentos contra o câncer. A ideia é conseguir resultados
expressivos, que antes seriam esperados em dez anos, no prazo de apenas
cinco anos.
O prazo pode parecer pretensioso, mas os americanos
estão no caminho. O pesquisador James Tour, professor na Universidade
Rice, no Texas, e eleito o cientista do ano em 2013 pela revista R&D,
é um pioneiro otimista da nanotecnologia. Em agosto deste ano, ele
descreveu, ao lado de sua equipe, uma técnica que destrói células
cancerígenas por meio de moléculas com a aparência de um carro, as
chamadas nanomáquinas. Quando ativadas, elas perfuram o tumor,
eliminando-o em apenas 1 minuto.
Além do câncer, essas moléculas poderão ser usadas
para combater infecções causadas por superbactérias, resistentes aos
antibióticos atuais. “Tudo isso é muito novo. Publicamos apenas um
artigo mostrando como essas nanomáquinas podem destruir células”, afirma
Tour a EXAME. “Ainda temos de publicar cinco artigos para que as
farmacêuticas prestem atenção nisso. Mas essa será a nova maneira de
realizar o tratamento médico.” Segundo a consultoria Grand View
Research, a nanomedicina deverá crescer, em média, 11% ao ano durante
uma década. O mercado sairá de 138 bilhões de dólares, em 2016, para 350
bilhões, em 2025.
Os tratamentos com base na edição genética também
terão um crescimento expressivo no período. Segundo um relatório
divulgado no início do mês pela área de pesquisa do banco Citi, o
mercado mundial desse setor sairá de 1 bilhão de dólares, em 2016, para
10 bilhões, em 2025. Novamente, os americanos lideram nessa frente. O
financiamento de pesquisas relacionadas ao tema pelo Instituto Nacional
de Saúde dos Estados Unidos foi multiplicado por 7 desde 2014,
alcançando 603 milhões de dólares no ano passado.
A técnica de edição do código genético foi criada há
cinco anos. O mecanismo, chamado de Crispr, surgiu com a observação do
sistema de defesa das bactérias e funciona da seguinte maneira: uma
proteína pode ser usada como um canivete para cortar o DNA num ponto
específico. A área exata do corte é definida por outra molécula, o RNA,
que atua como reconhecedor da sequência de DNA que deve ser rompida. O
sistema é útil para que uma bactéria destrua um vírus invasor, mas para
os humanos pode ser usado como um meio de contornar doenças hereditárias
e degenerativas, como a de Huntington, além do câncer.
Após o corte, as extremidades do DNA tentam
reconstruir o gene perdido. A melhor forma de fazer isso é procurando
cópias inteiras da sequência na própria célula. Eis que surge o golpe de
mestre: os cientistas adicionam à célula cópias alteradas, saudáveis e
sem mutação, e assim a sequência é reconstruída de uma forma diferente
da original. Seria como reconstruir parte de uma parede de tijolos de
barro utilizando blocos de concreto somente porque esses blocos estão à
mão — a resistência e a durabilidade seriam apenas consequências não
planejadas.
No fim de 2016, a técnica de edição de genes foi
usada por pesquisadores chineses para ativar o sistema imunológico e
tratar um câncer, na primeira aplicação em um ser humano. Toda essa
história se desenrola em meio a uma grande disputa de patentes. As
pesquisadoras Emmanuelle Charpentier, do Instituto Max Planck para o
Desenvolvimento Humano, na Alemanha, e a bioquímica Jennifer Doudna, da
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, entraram com pedido de
patente da técnica em junho de 2012 por seus estudos em organismos
simples, como bactérias. Já o chinês Feng Zhang, do Instituto de
Pesquisas Broad, ligado à Universidade Harvard e ao Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, entrou com pedido de patente seis meses
depois, mas com base em estudos feitos em organismos mais complexos. A
disputa está em análise nos tribunais americanos.
Outro benefício da genética é saber qual o melhor
tratamento para cada tipo de paciente. Em 2013, um grupo de
pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts publicou um estudo
demonstrando que a quantidade de peso que se perdia após uma cirurgia
gástrica estava relacionada a um gene específico no cromossomo 15.
Indivíduos com duas cópias desse gene perderam, em média, 40% do peso,
enquanto os que tinham uma cópia do gene apresentaram uma perda de 33%. O
único indivíduo da pesquisa que não apresentava esse gene perdeu menos
de 30% do peso.
A pesquisa, com base em 1.000 pacientes que passaram
pelo procedimento de 2000 a 2011, foi realizada porque muitas vezes os
candidatos adequados não tinham o emagrecimento esperado. “A ciência
está mostrando que existe um componente de hereditariedade no fracasso
dos tratamentos”, diz o cirurgião Ricardo Cohen, coordenador do Centro
Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, de São
Paulo. “Com isso, estamos passando da medicina baseada em evidências
para a era da medicina personalizada.”
O caminho para a longevidade passa, portanto, por
uma alteração radical da medicina. “O hospital do futuro terá cada vez
mais modelos preditivos com inteligência artificial para o diagnóstico e
para o tratamento”, afirma Enrico de Vettori, sócio das áreas de life
science e healthcare da consultoria Deloitte. Dois hospitais belgas, nas
cidades de Liège e Ostend, por exemplo, estão firmes nessa corrente.
Desde 2016, eles contam com o robô Pepper, fabricado pela empresa belga
Zora Bots, na recepção das seções de pediatria e geriatria. Com 1,40
metro de altura e feições humanas, o robozinho consegue indicar o
caminho até o consultório, reconhecer sintomas e entreter os pacientes
mais entediados ou nervosos.
O Pepper é apenas um símbolo do poder de combinação
da robótica com a inteligência artificial em prol de nossa saúde.
Deveremos ver mudanças até mesmo dentro dos centros cirúrgicos dos
hospitais. As primeiras cirurgias começaram a ser feitas um pouco antes
de 1900 e foram necessários 100 anos para uma segunda fase começar: a da
cirurgia por vídeo, a laparoscopia. A terceira fase, da cirurgia
robótica, foi desenvolvida nas últimas duas décadas.
Um estudo de 2013 revela que a cirurgia robótica
diminui em 20% o tempo de hospitalização do paciente em relação à
cirurgia tradicional. A próxima onda será a da cirurgia digital. “Ela é a
associação da robótica com a capacidade de análise de dados e imagens”,
diz Adriano Caldas, presidente da empresa de instrumentação médica
Johnson&Johnson Medical Devices no Brasil. Por exemplo: a máquina
poderá analisar as características de um tecido para indicar ao
cirurgião se aquele é um câncer ou não.
Atuar lado a lado com um médico foi o que pesquisadores da
Universidade Stanford, na Califórnia, conseguiram neste ano ao treinar
um algoritmo para reconhecer se uma mancha na pele é ou não um câncer
maligno. Eles cruzaram 130.000 imagens da internet de várias doenças de
pele com as imagens de biópsias feitas pela Universidade de Edimburgo.
Com uma amostra das imagens, o algoritmo teve o mesmo desempenho de um
painel formado por 21 dermatologistas. “Isso pode ser usado para
diagnóstico precoce em áreas onde há poucos médicos”, afirma Roberto
Novoa, professor de dermatologia e patologia em Stanford.
A ideia é que um app seja lançado e esteja disponível para pacientes,
mas para isso é preciso superar um problema: o algoritmo tende a
considerar como caso de câncer fotos de manchas tiradas junto com
réguas. É curioso, mas mostra a capacidade de aprendizado da máquina:
uma régua foi entendida como chance de câncer apenas porque as imagens
de biópsia têm como padrão exibir o tamanho do tumor. “O app não
eliminará a necessidade de uma visita ao consultório. O paciente pode
ter manchas em lugares de difícil acesso, como nas costas, por exemplo”,
diz Novoa.
O objetivo não é a máquina substituir os médicos.
“Não vai haver tecnologia capaz de substituir compaixão”, diz Charles Al
Odeh, diretor médico da rede de hospitais Americas Serviços Médicos/UHG
Brasil. Mas os computadores prestarão um auxílio precioso. O Watson,
plataforma de inteligência artificial da empresa de tecnologia IBM, tem
entre suas soluções um serviço que analisa as pesquisas científicas mais
recentes para oferecer uma lista com os tratamentos oncológicos mais
adequados a cada caso.
O resultado é discutido pelo médico com o paciente,
contando com mais segurança de que estão trilhando o melhor caminho para
uma possível cura. “Se for publicado um estudo 5 minutos antes da
consulta e esse estudo tiver uma relevância grande, ele aparecerá no
Watson”, diz Mariana Perroni, coordenadora médica da área de healthcare
transformation da IBM. “O tratamento não depende mais só do que o médico
lembra da época de sua formação ou do que ele viu no último congresso
em que conseguiu ir.”
Um estudo da GE Healthcare,
fabricante de equipamentos médicos, aponta que até 2020 a quantidade de
dados gerados pela área de saúde crescerá 50 vezes, informações que
começam a ser exploradas de maneira inteligente. A GE lançou um
aplicativo que captura a imagem de uma mamografia, faz uma análise com
base em 14 variáveis e responde em tempo real para o técnico se o exame
está apropriado para o diagnóstico médico. “Cerca de 60% dos exames de
mamografia precisam ser refeitos, uma ineficiência que deve ser
atacada”, diz Luiz Verzegnassi, presidente da GE Healthcare na América
Latina.
A holandesa Philips desenvolveu uma máquina de patologia digital que
posiciona 300 lâminas de exames ao mesmo tempo e faz o escaneamento de
cada uma delas em apenas 1 minuto, comparando-as com a base de
informações de um software. “Essa solução traz mais velocidade e
qualidade para a análise. Além disso, os resultados estão formando um
grande acervo global a ser consultado pelos patologistas”, afirma Renato
Garcia Carvalho, presidente da Philips no Brasil.
Com a aplicação de big data e inteligência
artificial, o setor de saúde assiste à chegada de novos competidores. A
tecnologia possibilita que pequenas e grandes empresas do Vale do
Silício entrem num mercado dominado por hospitais, grandes conglomerados
de equipamentos e pela indústria farmacêutica. “A saúde é um campo
fértil para as startups”, diz Renato Velloso Dias Cardoso,
sócio-investidor e membro do conselho do Dr. Consulta, uma rede de
centros médicos que utilizam um algoritmo para gerir a agenda de
consultas. Os olhares se voltam para um segmento conhecido como saúde
digital, que envolve software e inteligência artificial. Em 2024, o
tamanho desse mercado será de 379 bilhões de dólares, segundo a
consultoria Global Market Insights, num ritmo de crescimento anual de
26%. Os aplicativos de saúde vão corresponder à maior fatia desse setor,
representando 200 bilhões de dólares.
Um desses aplicativos é o americano Gyant, uma
interface disponível em português que faz uma anamnese virtual por meio
da área de conversas do Facebook. Ao perguntar sobre peso, idade,
altura, histórico médico e sintomas, o sistema é capaz de indicar se o
paciente, por exemplo, está com suspeita de infecção pelo vírus zika — o
repórter de EXAME, por outro lado, foi colocado no grupo de risco de
diabetes e passou a receber avisos sobre clínicas mais próximas para
fazer testes de glicemia, além de dicas sobre exercícios físicos.
Esse mercado oferece uma oportunidade não só para empresas pequenas
mas também para as grandes companhias do Vale do Silício. A Alphabet,
holding que controla o Google, é parceira desde 2015 da
Johnson&Johnson na Verb Surgical, uma empresa voltada para o
desenvolvimento de equipamentos de cirurgia digital — o primeiro
protótipo de um robô foi apresentado em janeiro deste ano. O grupo tem
uma iniciativa ainda mais arrojada: a Calico. Lançada em 2013 por Larry
Page, cofundador do Google, ao lado de Arthur Levinson, presidente do
conselho da Apple, a empresa conta com cientistas e desenvolvedores de
software com o objetivo de entender a biologia que controla o ciclo de
vida humano. No limite, a pretensão de Page e Levinson com a Calico é
descobrir uma fórmula para a imortalidade.
O cofundador do Facebook Mark Zuckerberg e sua
mulher, Priscilla Chan, seguem na mesma toada. Por meio da Chan
Zuckerberg Initiative, o casal se comprometeu com 600 milhões de dólares
para o financiamento de pesquisas de saúde, envelhecimento e
longevidade na Universidade Stanford e nos campi da Universidade da
Califórnia em São Francisco e em Berkeley. “Nosso objetivo é juntar um
time de cientistas e engenheiros para construir ferramentas
transformadoras que vão abrir uma nova era de progresso acelerado na
ciência e na saúde”, disse em 2016 Priscila, que é formada em medicina e
atua como pediatra. O casal Zuckerberg está particularmente interessado
no potencial da edição genética para a cura de doenças, apoiando as
pesquisas da professora Doudna com o Crispr.
A busca de soluções capazes de fazer viver mais seduz tanto os nomes
mais badalados do Vale do Silício como também os investidores que antes
atuavam nos bastidores. Em 2014, Joon Yun, sócio da Palo Alto Investors,
fundo que já colocou 1 bilhão de dólares em empresas da área de saúde,
lançou um prêmio de longevidade. Uma dezena de equipes de cientistas se
inscreveu para tentar ganhar o cobiçado cheque de 1 milhão de dólares.
Para isso, há alguns desafios, como estender o tempo de vida de um
mamífero qualquer e reverter os batimentos cardíacos de um animal idoso
para o padrão de um jovem. “Começamos a procurar soluções de longevidade
porque é o que de fato as pessoas querem”, disse Yun por telefone a
EXAME, de seu escritório em Palo Alto. “Acredito que manter a
resiliência do corpo tem de ser o foco das pesquisas. Essas são as
tecnologias mais promissoras.” O prazo para a corrida entre os
cientistas termina em 31 de dezembro de 2019.
No entanto, Yun, Page e os Zuckerberg sofreram um
revés importante no início deste mês. Pesquisadores da Universidade do
Arizona, nos Estados Unidos, provaram que é matematicamente impossível
evitar o envelhecimento. O corpo humano está preso entre duas situações
antagônicas. Ao envelhecermos, nossas células perdem a função para a
qual foram feitas — é por isso que ficamos com os cabelos brancos, por
exemplo — e ficam mais lentas. Só que, ao mesmo tempo, elas começam a
competir com outras células que mantêm uma taxa de multiplicação
acelerada, aumentando os riscos de mutação e os casos de câncer pelo
corpo. Bactérias e seres mais simples não apresentam essa condição. “Se
tivéssemos de lidar com apenas um desses problemas por vez,
conseguiríamos parar de envelhecer”, afirma Paul Nelson, um dos autores
do estudo. “Isso não quer dizer que não seja possível aumentar a
expectativa de vida. Mas, no estágio atual, não há solução possível.”
A questão será, portanto, sobre como envelhecer com a
melhor qualidade de vida possível. Até 2100, a população mundial com 65
anos ou mais deverá corresponder a 22,3% do total. Atualmente, a
terceira idade representa 8,5% dos 7,6 bilhões de habitantes do planeta.
Isso acarretará mudanças profundas na sociedade. Os regimes de
Previdência precisarão ser revistos, assim como a infraestrutura das
cidades. A mobilidade é um aspecto-chave da qualidade de vida das
pessoas mais velhas. “No geral, embora seja provável que vivamos mais
anos com alguma deficiência, isso se dará com uma deficiência leve e
moderada, e não com uma deficiência grave”, afirma Karen Glaser,
diretora do centro de envelhecimento global do King’s College de
Londres.
A multinacional de engenharia Arup, em relatório
recente sobre o tema, lembra que os serviços relacionados ao transporte
deverão ser planejados e entregues tendo em mente que os mais velhos
necessitam de ambientes que compensem suas mudanças físicas. Pode
parecer óbvio, mas sem a infraestrutura adequada será mais difícil
manter a população idosa economicamente ativa. Mais da metade dos jovens
em 18 países pensa em parar de trabalhar depois dos 65 anos. Uma
parcela de 14% pretende se aposentar entre 75 e 79 anos, segundo dados
do Oxford Institute of Ageing. Para boa parte desses idosos do futuro,
ainda sobrariam 40 anos ou mais de aposentadoria. Tempo suficiente para
colocar os pés para o alto, aproveitar a vida, curtir os tataranetos e
esperar a morte chegar — talvez com quase 150 anos. Fonte: exame.abril.com.br
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