Quem não gosta de ar puro, natureza, montanhas, muito verde, animais
silvestres, cavalos e... carrapatos?
É, quem mora em áreas rurais ou
gosta de fazer turismo ecológico não pode nunca se esquecer dos
carrapatos. Depois dos mosquitos, eles são os maiores transmissores de
doenças. Por isso, é fundamental estar bem informado e tomar as devidas
precauções, antes de colocar a mochila nas costas e pegar a estrada rumo
aos paraísos ecológicos.
No Brasil, a doença transmitida por carrapatos que mais preocupa é a
febre maculosa: se não tratada corretamente, ela pode levar à morte em
até duas semanas! Mas, por ser característica das zonas rurais e
aparecer normalmente em focos isolados, infelizmente a febre maculosa
acaba caindo no esquecimento. A situação se agrava pelo fato de ser uma
doença difícil de diagnosticar, já que seus sintomas se assemelham ao de
várias outras moléstias.
Quando essa dificuldade no diagnóstico se junta ao desconhecimento
por parte da população e à negligência e desinformação de médicos e
governos, o número de mortes por febre maculosa pode chegar a 80% dos
casos não tratados.
Cuidado com os carrapatos!
Cuidado com os carrapatos!

A febre maculosa pertence ao grupo das rickettsioses,
doenças causadas por rickettsias, pequenas bactérias que atuam como
parasitas de células e são transmitidas por artrópodes, como pulgas,
piolhos, ácaros e carrapatos. Para transmitir a febre maculosa, é
preciso que o carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii fique grudado à pele da pessoa por um período mínimo de quatro horas. A bactéria é liberada na saliva do artrópode.
Atenção para os sintomas!
Depois que a pessoa é picada, os primeiros sintomas, que são
geralmente febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, diarreia, e máculas
(manchas avermelhadas pelo corpo), levam em média de sete a dez dias
para se manifestar. A partir daí, o tratamento deve ser iniciado dentro
de no máximo cinco dias. Após este período, há sérios riscos de que os
medicamentos não surtam mais o efeito desejado.
E é aí que está o grande problema. A febre maculosa pode ser
confundida com um número muito grande de doenças, como sarampo,
meningite meningocócica, apendicite, rubéola, hepatite e dengue
hemorrágica, o que atrasa o tratamento. Isso acontece, porque as
bactérias atacam o endotélio, tecido que reveste internamente os vasos
sanguíneos e, assim, praticamente qualquer órgão pode ser afetado,
simulando sintomas de diversas doenças.
Até as manchas vermelhas que são uma boa referência da doença – as
manchas começam das extremidades para o centro do corpo – nem sempre
aparecem nos pacientes. Elba Lemos, coordenadora do Laboratório de
Hantaviroses e Rickettsioses da Fiocruz, explica que a ausência das
manchas não é motivo para se descartar a doença: “Acontece
principalmente em pessoas de pele negra”, esclarece.
Nesses casos, a pesquisadora orienta que o médico observe o histórico
do paciente, como, por exemplo, se ele esteve em regiões onde há
cavalos e animais silvestres ou em locais onde foram registrados casos
de febre maculosa.
Além dos sintomas serem variados e dificultarem o diagnóstico, Elba
explica que exames laboratoriais dificilmente poderão ajudar o médico na
confirmação desta enfermidade. Não que não haja testes para confirmar a
doença, mas eles só podem ser realizados, com precisão, 14 dias após o
início da infecção, tempo que o paciente não pode esperar para começar o
tratamento.
Antes disso, relata a pesquisadora, o organismo ainda não teve tempo
para produzir anticorpos. Os anticorpos são células de defesa que o
organismo produz contra determinada doença, e é pela presença deles, no
sangue do paciente, que os pesquisadores podem confirmar a infecção. “O
melhor é começar imediatamente o tratamento, em caso de suspeita de
febre maculosa, e suspender os medicamentos se os resultados dos exames
derem negativos”, defende Elba.
Para a prevenção, até já existe uma vacina, mas não é uma alternativa
atualmente cogitada. Apesar da alta letalidade da doença, o número de
casos é pequeno no país, e é difícil prever onde vão surgir novos focos.
A região do Brasil que apresentou, nos últimos anos, o maior número de
infecções por febre maculosa, Minas Gerais, teve em 8 anos (de 1995 a
2003) 106 casos confirmados. É um índice baixo, quando comparado a
outras doenças.
A febre maculosa, que também é chamada de febre do carrapato e
sarampão, dentre outros nomes, foi descrita pela primeira vez em 1899,
nos Estados Unidos. Neste país, a doença é conhecida como febre das
montanhas rochosas e pode ser transmitida por carrapatos da espécie Dermacentor andersoni, Dermacentor variabilis, Amblyomma americanum e Hameaphisalis leporis-palustris.
No Brasil, o primeiro caso de febre maculosa foi identificado em 1929,
em São Paulo e, desde então, a doença já foi registrada nos estados de
Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina.
Aprenda a se prevenir
Como a febre maculosa é uma zoonose, doença transmitida a partir do
animal para o homem, é muito importante que as pessoas tomem alguns
cuidados quando estiverem no meio rural.
Em primeiro lugar, você deve saber que cada fêmea de carrapato
infectada pode gerar até 16 mil filhotes aptos a transmitir rickettsias.
Deste modo, se você tem o hábito de levar o seu cãozinho para viajar
com você, tome cuidado para que ele não se torne reservatório da febre
maculosa quando você retornar para a sua cidade. Os cães, muitas vezes,
não apresentam nenhum sintoma da doença.
Para quem mora nas regiões rurais, é bom não deixar cachorro dentro
de casa e procurar fazer com frequência a higiene dos animais,
principalmente dos cavalos, com carrapaticidas. Uma medida eficaz, que
também evita a proliferação dos carrapatos, é aparar o gramado rente ao
solo uma vez por ano na época das águas, de preferência com roçadeira
mecânica. Com o capim baixo, os ovos ficarão expostos ao sol e não
vingarão, quebrando-se o ciclo do parasita.
Outro dado importante para se fazer a prevenção, é que a febre
maculosa é mais comum entre junho e novembro, período em que predominam
as formas jovens do carrapato, conhecidas como micuins. Algumas pessoas
acreditam que os micuins não transmitem a febre maculosa, o que é um
erro. Por serem muito pequenos, os micuins passam mais despercebidos que
os carrapatos adultos e, muitas vezes, ninguém sequer nota a presença
deles.
Para se proteger e facilitar a visualização dos carrapatos e dos
micuins, é muito importante que as pessoas, quando entrarem em locais de
mato, estejam de calça e camisa compridas e claras e,
preferencialmente, de botas. A parte inferior da calça deve ser posta
dentro das botas e lacradas com fitas adesivas. Se possível, evite
caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos e, a cada
duas horas, verifique se há algum deles preso ao seu corpo. Quanto mais
depressa ele for retirado, menores os riscos de infecção.
Mas quando for retirar um carrapato, não o esmague com as unhas. Com o
esmagamento, pode haver liberação das rickettsias que têm capacidade de
penetrar através de microlesões na pele. Também não force o carrapato a
se soltar, encostando agulha ou palito de fósforo quente. O estresse
sofrido pelo artrópode faz com que ele libere grande quantidade de
saliva, o que aumenta as chances de transmissão de rickettsias.
Retire-os, com cuidado, por meio de leve torção, para liberar as peças
bucais (da boca).
Existem também repelentes, com concentrações maiores do produto
químico DEET (N-N-dietil-meta-toluamida), que são eficientes contra
mosquitos e carrapatos. Fonte: invivo.fiocruz.br
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