"Estudo realizado por um consórcio internacional estimou a incidência do primeiro episódio psicótico"
Homens jovens, minorias étnicas e moradores de áreas com baixos
indicadores socioeconômicos têm maior propensão a apresentar um primeiro
episódio psicótico, como é definida a manifestação inédita de
transtornos mentais que incluem esquizofrenia, transtorno afetivo
bipolar e depressão com sintomas psicóticos – como alucinações, ideias
delirantes e desorganização do pensamento.
A constatação é de estudo realizado por um consórcio
internacional que estimou a incidência do primeiro episódio psicótico em
cinco países europeus – Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Itália –
e no Brasil.
No Brasil, o trabalho,apoiado pela FAPESP. Os resultados da pesquisa foram publicados na
revista JAMA PSYCHYATRY.
Esse é o segundo estudo feito no Brasil sobre a incidência
dos primeiros episódios psicóticos e o mais recente estudo da incidência
internacional de transtornos psicóticos foi realizado na década de
1980.
Nos últimos anos, pesquisas têm indicado que a incidência do
primeiro episódio psicótico apresenta uma variação entre regiões e
grupos populacionais. Em países europeus, tem sido observada maior
incidência desses transtornos em grandes centros urbanos em comparação
com pequenas vilas e áreas rurais e em grupos étnicos minoritários, como
imigrantes negros do Caribe e da África.
A fim de corroborar ou refutar essas observações, os
pesquisadores do consórcio fizeram um trabalho de identificação de
pacientes que apresentavam o primeiro episódio psicótico. A investigação
foi feita em 17 centros urbanos e rurais dos seis países participantes,
entre 2010 e 2015. No Brasil, o levantamento foi feito em 26 municípios
da região administrativa de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Os pesquisadores identificaram 2.774 pacientes que
apresentaram um primeiro episódio de transtornos psicóticos, dos quais
1.578 eram homens e 1.196 mulheres, com idade média de 30 anos. As análises dos dados indicaram uma variação de oito vezes
na incidência dos transtornos psicóticos entre as áreas estudadas.
Enquanto em Santiago, na Espanha, a incidência foi de seis novos casos
por 100 mil habitantes por ano, em Paris, na França, o número subiu para
46 novos casos também por 100 mil habitantes por ano. Na região de
Ribeirão Preto, a incidência foi de 21 novos casos por 100 mil
habitantes por ano.
O estudo confirmou que a incidência do primeiro episódio
psicótico varia muito entre grandes centros urbanos e regiões mais
rurais e indicou que os fatores determinantes centrais para essa grande
variação são, provavelmente, ambientais.
Até o fim do século 20 acreditava-se que os principais
fatores etiológicos [origem e causa] de transtornos psicóticos seriam
genéticos, mas os dados do estudo apontam que os fatores ambientais
desempenham um papel muito relevante.
Mais vulneráveis
O estudo também apontou que há maior incidência de primeiro
episódio psicótico em homens de 18 a 24 anos em comparação com mulheres
na mesma faixa etária, o que confirma um dado relativamente consistente
na literatura.
De acordo com o pesquisador, estudos anteriores já indicavam
maior incidência de primeiro episódio psicótico em homens jovens e
também que, conforme os homens se aproximam da idade de 35 anos, a
incidência de transtornos mentais neles tende a se equiparar à das
mulheres. Em mulheres adultas, entre 45 e 54 anos, a incidência de
transtornos mentais é um pouco maior do que a dos homens nessa mesma
faixa etária.
Ainda não se sabe exatamente a razão dessa diferença da
incidência do primeiro episódio psicótico entre sexos e faixas etárias.
Mas isso pode estar relacionado ao processo de amadurecimento cerebral,
uma vez que o cérebro atinge sua maturidade entre os 20 e 25 anos. Nesse
período, os homens parecem ficar mais vulneráveis do que as mulheres
para desenvolver transtornos mentais.
Os pesquisadores também constataram alta incidência de
primeiro episódio psicótico em minorias étnicas e em áreas com menor
porcentagem de casas ocupadas por seus proprietários.
Isso sugere que as condições socioeconômicas das pessoas e
do ambiente onde vivem têm papel importante na etiologia dos transtornos
psicóticos. É preciso compreender melhor os mecanismos envolvidos para
explicar a variação da incidência desse problema entre populações.
Os pesquisadores pretendem analisar os dados sobre o
histórico de vida dos pacientes, além de suas condições socioeconômicas,
e compará-los com controles da população (pessoas que não apresentaram
esse quadro) a fim de analisar os fatores de risco para o
desenvolvimento de um primeiro episódio psicótico.
Experiências traumáticas na infância e experimentar maconha
na adolescência ou início da vida adulta, por exemplo, são fatores que
aumentam o risco de transtornos mentais. Se
conseguirmos identificar os fatores de risco para o desenvolvimento
desses transtornos mentais em populações mais vulneráveis, é possível
intervir para diminuir a incidência.
Transtornos psicóticos são responsáveis por uma proporção
significativa da carga global de doenças, em razão da incapacitação que
causam. Têm ainda evolução bastante variada e podem levar a graus
elevados de incapacitação. Grande parte dos pacientes requer cuidados
especializados em centros de psiquiatria e saúde mental. Fontes: jamanetwork.com / bv.fapesp.br / exame.abril.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário