"Uma grande novidade está mudando a
realidade dos tratamentos contra o câncer"
A US Food and Drug
Administration (Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados
Unidos - FDA) acaba de anunciar uma nova era na medicina, depois de
recomendar o primeiro tratamento que faz alterações genéticas nas
células dos pacientes com câncer, a fim de combater a doença.
Os micro-organismos vivos, que são manipulados pela empresa farmacêutica
suíça Novartis, reforçam o sistema imunológico humano para que ele seja
capaz de curar a doença. É provável que essa se torne a primeira
terapia genética a chegar ao mercado médico.
As empresas de pesquisa e farmacêuticas competiram intensamente entre si
durante décadas para se tornarem as primeiras a atingir esse marco, mas
parece que a Novartis será a pioneira. É um tratamento para um tipo de
leucemia, que é um grupo de cânceres que começam na medula óssea e
resultam em grande quantidade de glóbulos brancos anormais.
Simultaneamente, a Novartis está trabalhando em um tratamento semelhante
para o mieloma múltiplo, e um outro tipo agressivo de tumor cerebral.
Um tratamento específico deve ser criado para cada paciente afetado,
onde suas células são removidas em um centro médico aprovado, congeladas
e enviadas para Novartis para descongelamento e processamento, depois
congeladas novamente e enviadas de volta ao centro de tratamento.
O produto que emerge como resultado deste processo levou a melhoras
significativas e, possivelmente, cura para muitos pacientes que estavam à
beira da morte devido ao fracasso de outros tratamentos disponível para
eles. Embora os estudos tenham sido realizados em vários tipos de
câncer, foi principalmente recomendado para o tratamento da leucemia
linfoblástica aguda dos linfócitos B, que acomete principalmente
crianças e jovens de 3 a 25 anos.
Emily Whitehead, uma americana de 12 anos, foi a primeira criança a ter
as células alteradas, o que salvou sua vida. Quando tinha apenas seis
anos, ela foi tratada como parte de um estudo no Hospital Infantil da
Filadélfia, nos Estados Unidos. Ela sofreu efeitos colaterais graves,
como febres severas, queda de pressão sanguínea e congestão pulmonar.
Ela quase morreu, mas graças ao tratamento foi curada e leva uma vida
normal até hoje.
A principal evidência fornecida pela Novartis para que seu novo
tratamento obtivesse uma recomendação da FDA, foi um estudo conduzido
usando 63 pacientes, entre abril de 2015 e agosto de 2016. Cerca de 52
dos pacientes, equivalentes a 82,5% do total, apresentaram melhoras.
Essa é uma taxa consideravelmente alta para uma doença de tal gravidade.
O próximo passo no desenvolvimento do tratamento é estabelecer outras
alternativas que sejam compatíveis com outros tratamentos. Além de
usá-lo no futuro para tratar pacientes com doenças menos graves, isso
permitiria que o sistema imunológico fosse mais eficaz na luta contra as
doenças.
Embora a eficácia do novo tratamento não tenha sido questionada, ainda
há preocupações sobre os efeitos colaterais potencialmente fatais, além
de preocupações a curto prazo sobre os pacientes que têm uma reação
aguda ao tratamento, assim como Emily Whitehead, que experimentou
severas reações por causa das células infundidas, causando câncer
secundário ou outros problemas de saúde.
Felizmente, os oncologistas apresentaram soluções para reações agudas ao
tratamento, e não foram detectados problemas até agora. Contudo, ainda é
muito cedo para dizer se essas soluções poderão ser usadas ou não.
À medida em que os pacientes forem experimentando o tratamento, seus
dados serão mantidos em um arquivo, que será monitorado por 15 anos.
Os produtos biológicos ou os tratamentos envolvendo células vivas são
mais complicados de fabricar do que medicamentos regulares, por isso
ainda há dúvidas se a Novartis será capaz de fazer tratamentos
consistentes, e manter o controle de qualidade quando a produção
aumentar para larga escala.
O uso do tratamento não será generalizado no início, e isso ocorre
porque a doença pela qual o tratamento foi criado não é tão comum. A
enfermidade afeta 5 mil pessoas por ano, sendo 60% delas crianças e
jovens adultos. Embora a maioria das crianças afetadas sejam curadas com
tratamentos padrões, em cerca de 15% dos casos, como o de Emily, a
doença não responde ou tem recaídas.
Prevê-se que os tratamentos individuais custem em torno de R$ 900 mil,
mas uma porta-voz da Novartis não quis especificar o preço quando
solicitado. O valor pode ser assustador à primeira vista, mas os
pacientes com câncer muitas vezes acabam gastando mais do que isso,
devido a custos de tratamento caros e estadias prolongadas em hospitais.
Inicialmente, a Novartis limitará a distribuição do tratamento a apenas
30 ou 35 centros dos Estados Unidos, onde os funcionários receberão
treinamento específico para administrar a técnica corretamente. Ficará a
cargo dos centros médicos se receberão, ou não, pacientes
internacionais e, no futuro, a gigante farmacêutica chegará a novas
regiões.
Atualmente, os pesquisadores ainda estão discutindo quais pacientes
podem continuar o tratamento com segurança, e quais precisam de um
transplante de medula óssea para aumentar suas chances de cura.
Milhões de células T reguladoras de um paciente são removidas como parte
do tratamento. Elas são um tipo de glóbulo branco, muitas vezes
referidas como as protagonistas do sistema imunológico. Quando as
células T são removidas, elas são geneticamente modificadas com um tipo
incapacitado de HIV, que carrega material genético novo. Nesse processo,
as células T são programadas para atacar células B, que se tornam
malignas quando acometidas pela leucemia.
As células T alteradas são, então, introduzidas de volta para as veias
do paciente, onde se multiplicam e iniciam o processo de combate ao
câncer. Um dos principais pesquisadores da Universidade da Pensilvânia,
onde o tratamento foi desenvolvido, afirmou que as células manipuladas
eram como "assassinos em série" em direção a células malignas, onde
apenas uma delas pode destruir até 100 mil céluas cancerígenas.
Uma desvantagem deste método é que no processo de destruição das células B, tanto células saudáveis quanto as malignas são removidas e, por esse motivo, os pacientes precisam receber uma infusão de imunoglobulinas periodicamente, a fim de protegê-los contra infecções.
Infelizmente, não é tão simples quanto parece. Em alguns casos, o
processo de alteração das células T pode levar até quatro meses, e
alguns pacientes estavam tão doentes que vieram à óbito antes mesmo de
suas células ficarem prontas. A Novartis afirma ter conseguido reduzir o
tempo de entrega das células T para apenas 22 dias. Outras medidas de
segurança, tais como códigos de barras, estão sendo empregadas para
evitar que as amostras sejam misturadas e confundidas, quando o
tratamento for conduzido em uma escala maior.
Apesar deste tipo de tratamento estar apenas no início, a certeza de que
ele pode ser feito já existe, por isso é apenas uma questão de tempo
até mais empresas começarem a desenvolver esse tipo de terapia genética. Fonte: The New York Times.
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