"Sigmund Freud, o pai da psicologia moderna, era obcecado pelo
sentimento de culpa"
Na visão psicológica dele, essa emoção dolorosa
(uma tensão entre o superego, ou consciência, e o ego) exercia um papel
crítico no surgimento da depressão e era um obstáculo poderoso à busca
da felicidade.
"O preço que pagamos por nosso avanço na civilização é a perda da
felicidade com a intensificação do sentimento de culpa", Freud escreveu
em sua obra-prima sociológica de 1930 O Mal-Estar na Civilização,
argumentando que as sociedades modernas reforçam nosso sentimento
interno de culpa.
Nosso entendimento moderno do comportamento humano já ultrapassou
muitos elementos da teoria freudiana, mas a análise da culpa feita por
Freud continua a ser importante e é substanciada por pesquisas recentes.
Qualquer pessoa que já tenha sentido culpa - ou seja, todo o mundo -
sabe que esse sentimento pode causar muito sofrimento e impedi-lo de
curtir a vida. O sentimento de culpa pode ser útil e essencial, sem
dúvida alguma; pode nos levar a avaliar nossos pensamentos e ações,
funcionando como sistema de freios e equilíbrios morais. Mas quando ele
toma conta de nós, qualquer passo em falso pode desencadear dúvidas a
seu próprio respeito, vergonha e até depressão.
Veja seis coisas que você precisa saber sobre o sentimento de culpa, e como impedir que ele controle sua vida:
O sentimento de culpa pode (literalmente) ser uma carga pesada
De acordo com pesquisas recentes
da Universidade de Waterloo e da Universidade Princeton, um sentimento
de culpa exacerbado pode realmente ser acompanhado por sensação de peso
aumentado. Os pesquisadores quiseram averiguar se existe alguma base
factual nas noções populares sobre "carregar uma culpa" e de que a culpa
"pesa" sobre nossa consciência. E o que descobriram foi fascinante.
"Constatamos que a lembrança de atos pessoais antiéticos cometidos
levou os participantes a relatar peso corporal subjetivo aumentado, em
comparação com quando recordavam atos éticos seus, atos antiéticos de
outros ou não se recordavam de nada", disse o pesquisador Martin Day, da Universidade Princeton.
"Também constatamos que esse senso de peso aumentado estava relacionado
ao sentimento de culpa maior dos participantes e não a outros
sentimentos negativos, como tristeza ou repulsa."
Ele contribui para a depressão
Um estudo de neuroimagiologia feito em 2012
constatou que as pessoas que estão ou estavam com depressão apresentam
reação de culpa aumentada. Para as pessoas que já tiveram depressão, o
sentimento de culpa está menos associado ao conhecimento de
comportamentos socialmente aceitáveis do que está no caso de indivíduos
não deprimidos. Ou seja, os indivíduos com depressão podem culpar-se
excessivamente de uma maneira que não é voltada à busca de soluções.
"As tomografias e outros exames revelaram que as pessoas com
histórico de depressão não 'unem' às regiões cerebrais associadas à
culpa e ao conhecimento dos comportamentos apropriados tão fortemente
quanto fazem as pessoas do grupo de controle dos que nunca tiveram
depressão", disse Roland Zahn, da Universidade de Manchester.
"Isso pode refletir uma falta de acesso a informações sobre o que foi
inapropriado em seu comportamento quando se sentiram culpadas, com isso
estendendo o sentimento de culpa a coisas pelas quais as pessoas não
foram responsáveis, sentindo-se culpadas por tudo."
O sentimento de culpa pode ser a razão pela qual você está procrastinando
Muitos estudos já concluíram
que o sentimento de culpa é um fator chave na procrastinação. Sentimos
culpa por alguma coisa que fizemos e então hesitamos em iniciar uma
tarefa nova, talvez por medo de cometer outro erro. E o próprio fato de
postergar o que deveríamos fazer nos faz ter sentimento de culpa, que,
por sua vez, muitas vezes enfraquece o sentimento agradável que
poderíamos ter tido por evitar a tarefa.
Você precisa dar conta de uma tarefa, finalmente? Pesquisas
constataram que, quando você se perdoa por postergar, pode na realidade impedir-se de fazer isso no futuro.
As mulheres realmente tendem a sentir mais culpa
As pesquisas confirmaram o estereótipo cultural segundo o qual as mulheres tendem a sentir mais culpa que os homens. Um estudo espanhol de 2010
concluiu que as mulheres sentem culpa mais frequente e mais
intensamente que os homens e também que têm escores mais altos que os
homens nas medições de sensibilidade interpessoal. A diferença nos
níveis de sentimento de culpa entre homens e mulheres na faixa dos 40
aos 50 anos foi especialmente marcante. Os pesquisadores observaram que a
falta de sensibilidade interpessoal pode ser um fator fundamental a
contribuir para os baixos níveis de sentimento de culpa dos homens.
O sentimento de culpa não é um bom motivador
Muitos psicólogos acham que o sentimento de culpa pode nos levar à
autocorreção depois de fazermos algo errado ou pensar que fizemos algo
errado, quer seja comer uma fatia de bolo a mais ou cancelar planos com
uma amiga no último minuto. Já foi demonstrado
que o sentimento de culpa moderado pode deter maus comportamentos. Mas o
sentimento de culpa exacerbado pode na realidade manter você atolada em
padrões comportamentais negativos. Estudos demonstram que a culpa pode reduzir nossas reservas de força de vontade.
"Sentir culpa é um jeito de tirar o corpo fora", Cara Paiuk escreveu num blog do Huffington Post.
"Você sente culpa para que não precise assumir a responsabilidade. Em
vez de tomar medidas concretas e resolver a situação, você opta por
apenas se sentir 'culpada' por ela. Em vez de você superar o problema e
avançar, o sentimento de culpa deixa-o viver no passado e evitar o
presente."
Portanto, na próxima vez em que mergulhar numa espiral de culpa,
lembre-se: essa pode não ser a maneira mais eficaz de motivar-se a
perder aqueles últimos dois quilos e meio, ser uma mãe melhor ou
alcançar qualquer outra meta que seja importante para você.
Culpa e vergonha não são a mesma coisa, mas os dois sentimentos estão interligados
Enquanto a vergonha está ligada ao eu, a culpa está mais relacionada
aos outros, segundo o psicólogo Joseph Burgo. A culpa geralmente envolve
sentir-se mal por um ato errado específico e o modo como ele pode ter
afetado outras pessoas. A vergonha é o sentimento doloroso de que há
algo de errado ou mau em você.
"A diferença entre vergonha e culpa é a diferença entre 'eu sou má' e
'eu fiz uma coisa má'", disse a Oprah Winfrey a autora de "Daring
Greatly", Brené Brown, explicando que a vergonha é a emoção mais prejudicial das duas.
Mas os dois sentimentos frequentemente andam juntos, e o que eles têm
em comum é que nos mantêm presos ao passado, refletindo sobre os erros
que cometemos e sobre nossos defeitos, conforme os enxergamos. E, em
excesso, nenhum desses dois sentimentos nos faz chegar mais perto de
verdadeiramente aceitar e perdoar os erros que cometemos ou de mudar as
coisas em nós mesmos que não nos agradam. Fonte: huffpostbrasil.com
Assista neste vídeo o porquê de carregarmos tanta culpa!
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