"Uma
mulher nunca entra em um hospital para dar à luz, emocionalmente
preparada, para uma criança deficiente, pois as chances de que ela tenha
um bebê saudável, como todos os pais idealizam, são muitas"
Independente de qual seja à força de uma pessoa, dificilmente ela se
encontra de fato preparada para se defrontar com o desespero real.
“É
muito difícil alguém se furtar à dor durante toda a vida, pois assim
como yin e yang, a alegria e a dor andam juntas. Na maioria das vezes, a
dor que vivemos é temporária, vai tão rápido quanto vem. Nada mais é do
que outro evento consciente que se aprende a esperar no processo normal
da vida. Como tal, é vivido e depôs esquecido. É possível, porém, que
muitas pessoas vivam sem conhecer o verdadeiro desespero, o tipo
inevitável que não será esquecido, mas com o qual se deve conviver.
Aquele que não se pode modificar. A pessoa terá de mudar seu estilo de
vida e seus sentimentos a fim de acomodá-lo, pois ele estará sempre
presente, não se pode escapar dele. A deficiência permanente pode
provocar esse tipo de desespero”.
O
choque inicial a essa percepção e o consequente sentimento de descrença
serão determinados, a princípio, dependendo de até que ponto a
deficiência é claramente visível ou irremediável. Com certeza ela não
está pronta para o conhecimento de que seu filho talvez tenha de viver
com uma deficiência por toda a vida, a qual poderá impor limitações
permanentes a todas as atividades e que exigirá dela, assim como dos
outros membros da família, tempo, energia e dinheiro em proporções
extraordinárias.
A
criança perfeita que esperavam não veio e, em seu lugar, terão de
aceitar algo muito aquém de suas expectativas, pois a tomada de
consciência traz consigo urna dor profunda e a decepção para toda a
família. Uma deficiência tal como a paralisia cerebral ou a ausência de
membros em um recém nascido não passará despercebida, uma constante
lembrança da dor daquela família.
Portanto,
a priori, é mais difícil de lidar com o aspecto físico e visível do que
com a deficiência interna, aparentando uma criança perfeita. Neste
ultimo caso, porém o estresse e a ansiedade vêm do fato de que a
extensão real do problema não pode ser avaliada e os pais estarão
constantemente à mercê de um futuro imprevisível, observando e
esperando.
Algumas
mães sentem-se pessoalmente responsáveis pela condição em que seu filho
vem ao mundo, questionando-se por não terem sido mais cuidadosas
durante a gestação. Pensamentos e emoções como esses produzem fortes
sentimentos de autorrecriminação e autocensura instalando-se profundos
sentimentos de culpa.
Os
pais de deficientes demonstram essa recriminação aparentando sentirem
vergonha, sentimento esse mais centrado nos outros do que a culpa. Aqui,
a preocupação é com as atitudes das outras pessoas:
– “O que os outros vão pensar?”.
– “O que vão dizer?”.
Isso
acontece, pois a vergonha atinge o âmago do nosso ser e alcança as
camadas mais profundas de nossas emoções. Quando os indivíduos se tornam
pais, vêem seus filhos como umas extensão de si mesmos, ou seja, esses
pais esperam que seus filhos, de certa forma, se tornem um reflexo do
melhor de si próprios e sentem-se envergonhados quando isso não
acontece. Quando qualquer esperança com relação à isso lhes é tirada,
sentem-se indefesos, desesperados e envergonhados.
O
medo é outra emoção comum aos pais de deficientes, pois temos um medo
natural daquilo que não compreendemos. Em histórias em quadrinhos, o
medo é representado como grupo de nuvens negras pairando ameaçadoras
sobre determinado indivíduo. “Parecia
que eu estava sempre sendo perseguida por negras nuvens de medo, que
constantemente impediam qualquer percepção clara. Essas nuvens
impenetráveis tornavam a tomada de decisões quase impossível para mim no
inicio. Eu simplesmente não podia ver através delas". Acompanhando
o medo vem a incerteza — em relação à criança, à deficiência e ao seu
prognóstico, à eficiência do médico, reações das pessoas a nós e à
criança. Incerteza em relação ao novo papel e capacidade, ao nosso
futuro e ao da criança.
Não
é raro, portanto, que após o nascimento da criança, um dos pais siga um
período de profunda depressão. É um momento em que não se deseja
pensar, planejar, sentir ou fazer qualquer outra coisa, se tornando um
modo de fuga, caracterizado por apatia e vazio, pois a dor emocional se
torna tão aguda e penetrante que a pessoa resvala para uma espécie de
inconsciência lógica.
Portanto,
os pais seguem a vida em piloto automático, resultando em lágrimas,
aparentemente sem dor e impróprias, fluem de modo espontâneo, para
provar que as emoções estão lá e que, em seu tempo próprio, de uma forma
ou de outra, irão se manifestar. Em
contrapartida, há pais que reagem de forma oposta, aparentando estarem
felizes e dispostos a enfrentar o que vier pelos seus filhos, na
tentativa de convencer os demais (e a sí mesmos) do quanto são fortes e
como estão preparados e que amam o filho, independente de sua
incapacidade e que a vida para eles seguirá em frente.
Esses
pais sufocarão a dor e o desespero. Suas lágrimas serão secretas,
permitidas apenas nos momentos em que estiverem sozinhos. A dor será
intensa, como a de todos os outros, mas eles a manterão sob-controle.
“De que adiantariam as lágrimas?”.
Há
muitos desses mecanismos contra a dor. Podemos racionalizar e encontrar
boas desculpas para nossas ações e reações; podemos projetar os
sentimentos, culpando outras pessoas por nosso desespero e infelicidade;
podemos procurar bodes expiatórios convenientes aos nossos
desajustamentos; podemos culpar o médico, o cônjuge e mesmo a Deus ou a
sociedade em geral; podemos sublimar esses sentimentos de medo e
inadaptação e supercompensá-los tentando ser o melhor pai ou mãe do
mundo. Esses padrões de defesa são formados sob grande tensão. Na maior
parte dos casos, representam um quebra-galho, não uma solução
permanente. Como tal, servirão a seu propósito, mas a longo prazo,
cobrarão seu tributo. O controle das emoções consome muita energia. Não é
fácil representar um papel falso. Fingir bem-estar é uma atitude
superficial e vazia. Na maioria das vezes, a determinada altura, os pais
serão forçados a encarar seus verdadeiros sentimentos em relação a si
próprios, à família, ao filho deficiente e à deficiência.
Nem
sempre os mecanismos de defesa são nocivos. A maioria de nós faz uso
deles, em certo grau, para manter nossa existência diária. Mas é a
dependência excessiva a esses sistemas que trará problemas adicionais.
Esse processo de encarar sentimentos e, em especial, emoções fortes não é
fácil, sob qualquer aspecto. Exigirá força, honestidade, insight,
inteligência e sensibilidade. O preço é alto, mas a recompensa é maior
ainda.
Deficiências
são fatos, são reais. A inabilidade em atender a todas as necessidades
que implicarão não é um indício de fraqueza, inadequação, ou ignorância.
Em vez disso, trata-se de uma afirmação de que somos seres humanos como
todos os outros, imperfeitos, gerando sentimentos nada previsíveis e
lógicos, portanto, não é algo simples lidar com eles.
Por
essa razão é tão importante e necessário o acompanhamento terapêutico
nesses casos. Procurem auxílio e cuidem-se, pois precisamos estar bem
para poder e conseguir cuidar do Outro. Fonte: mundodapsi.com
Assista a seguir neste vídeo algumas dicas de como conviver com filhos deficientes:
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