"Muitas
vezes a necessidade de aceitação os faz aceitar as regras do jogo, mesmo
que estas coloquem sua vida em risco"
Muitas vezes ouvimos histórias que nos fazem refletir
sobre nossa relação com nossos filhos e vezes sem fim fazemos a mesma pergunta “e se fosse comigo?”.
Nesta semana ouvi o relato de uma
Professora Coordenadora, afirmando que em dez anos de carreira, nunca
tinha vivido uma situação parecida com a que vivenciara na noite
anterior.
Período noturno, alunos de Ensino Médio. Lá estava a
Coordenadora no corredor, observando o retorno à aula após o período de
intervalo, quando foi abordada por dois alunos, um rapazinho e sua
amiga.
Conta ela, sem nenhuma nota de preconceito na voz, que
ficou em dúvida se eram duas meninas ou um casal e que a dúvida
persistiu até o momento em que perguntou o nome dos alunos. Resposta
dada era um casal, um rapazinho e uma mocinha.
A responsável pela abordagem foi a garota. Ela disse à
coordenadora que o amigo tinha um problema e precisava de ajuda, mas que
estava com vergonha de falar. Então esta profissional solícita, acalmou
os ânimos, acolheu o garoto, convidou-o à sua sala e esperou que o
mesmo se abrisse com ela.
Passado o mal estar inicial o garoto
disse que estava há dois dias com um sangramento anal e que não sabia o
que fazer. A Coordenadora mobilizou nela toda empatia necessária ao
momento, visto que, não obstante ser hoje comum jovens de 15 anos terem
experiências homossexuais abertamente, elas ainda nos assustam, ainda
nos causam algum mal estar, talvez porque numa transferência pensemos em
todos os preconceitos e perigos a que estes jovens estão sujeitos.
Recobrado
o equilíbrio a coordenadora pediu a ele que relatasse o que ocorrera
que ocasionara o sangramento. O aluno contou com riqueza de detalhes.
Ele
e seu parceiro, uma pessoa mais velha, haviam tido relações anais e
depois disso o sangramento começou. Não fora a primeira relação, não
fora violenta, Aparentemente nada que justificasse o sangramento. Com o
consentimento do aluno, a professora de Biologia, que tem um bom
relacionamento com os alunos foi chamada a orientar.
Ao perguntar se eles haviam tomado precauções, como o uso da
camisinha, o rapaz respondeu que não, que eles são fiéis um ao outro e
que dispensam o uso desta proteção. Ao perguntar se ele tinha certeza
que o companheiro era “limpo”, ingenuamente ele disso que sim, que o
mesmo toma banho sempre.
Refeita a pergunta quanto a ter certeza
que o companheiro não possui nenhuma doença sexualmente transmissível,
se já tivera outros parceiros antes dele, o rapaz não soube responder. A
Equipe Escolar então encaminhou o menino para o Posto de Saúde com um
relatório à Assistente Social.
Diante da gravidade dos fatos, a
escola disse ao aluno que precisaria conversar com sua mãe e contar o
que estava acontecendo. O aluno aceitou, mesmo porque seria a primeira
vez que a mãe ficaria sabendo de sua vida sexual e de sua relação com
outro homem.
A mãe atendeu na hora o chamado da escola e ficou
muito surpresa com o que ouviu. Ela, apesar de ver que o filho “era um
pouco mais delicado que o normal” (palavras da mãe), nunca pensou que
ele fosse capaz de fazer as coisas relatadas. A mãe foi orientada a
acompanhar de perto a ida ao médico e os resultados do exame.
Não houve gritos, nem choros, nem nenhuma reação emocional
desmedida. Talvez, segundo a Coordenadora a mãe até já soubesse, mas não
quisesse saber.
Depois desse relato encontrei a Professora
Coordenadora e ele me disse que o aluno está se tratando de uma DST –
Doença Sexualmente Transmissível e agora faz parte de um grupo de
orientação do Posto de Saúde para sexualidade segura.
Fiquei
pensando na onipotência da juventude. Esta é uma característica do
jovem. Nada de ruim vai acontecer a ele, por isso os jovens se lançam a
aventuras onde o bom senso muitas vezes fica esquecido.
Muitas
vezes a necessidade de aceitação os faz aceitar as regras do jogo, mesmo
que estas coloquem sua vida em risco. Além disso, tem também as
idealizações que são aprendidas socialmente, embora seja “cafona” (termo
tirado do fundo do baú!) todos nós introjetamos o sonho de viver um
grande e idealizado amor!
Depois pensei nesta mãe. Será que algum dia ele olhou de
verdade para este filho? Não conheço o rapaz, mas para a Professora
Coordenadora ficar em dúvida sobre o sexo dele, é porque os traços
físicos são mais femininos que masculinos… Aonde ele vai quando sai à
noite? Quem são seus amigos? Onde moram? Como ele volta para casa? Ele
tem horário para chegar?
Ser pai é uma tarefa trabalhosa!
Encontrar o equilíbrio é algo que devemos exercitar sempre em nós
mesmos, para tudo na vida, mas em especial para a tarefa de educar outro
ser humano.
Ouvindo esta história parei para pensar: realmente
conheço meus filhos? Olho para eles e os vejo como realmente são? Ou
apenas vejo o que quero, o que desejo que eles sejam? E você? Realmente conhece seu filho? Pense nisso. Fonte: fasdapsicanalise.com.br
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